Bira era um menino de olhos grandes e curiosos, que adorava passar as manhãs de sábado no zoológico da cidade. Não era apenas pelos animais exóticos, mas pela sensação de estar em um lugar onde a natureza e a aventura se encontravam. De todos os habitantes do zoológico, sua favorita era Nina, a tigresa de listras vibrantes e um olhar misterioso.
Nina, com sua pelagem laranja e preta, era a rainha do seu recinto. Ela se movia com uma graça que hipnotizava Bira, que passava horas observando-a. O zelador, Zé da Jaula, um homem com um bigode fofo e um chapéu sempre torto, conhecia Bira de tanto vê-lo ali. Zé cuidava de todos os animais com um carinho imenso, mas tinha um elo especial com Nina.
Um dia, Bira notou algo diferente. Nina estava mais quieta que o normal, suas brincadeiras com a água tinham cessado e seu olhar, antes tão alerta, parecia distante. Ele sentiu uma ponta de tristeza no ar. Preocupado, Bira procurou Zé da Jaula.
Zé, que estava limpando a jaula dos macacos com uma vassoura que parecia maior que ele, ouviu Bira com atenção.
Bira disse: Zé, a Nina não está como sempre. Ela parece triste.
Zé da Jaula coçou o bigode. É verdade, meu jovem. Tenho notado isso também. Ela não comeu todo o seu petisco hoje.
Bira pensou um pouco. Talvez ela esteja sentindo falta de algo. Ela sempre gostava daquela moita grande de bambu perto da cascata.
Zé da Jaula arregalou os olhos. Você tem razão, Bira! O bambu! Ele secou com o calor intenso da semana passada e eu não tive tempo de substituí-lo ainda. Aquele bambu era especial para ela, parecia um pedacinho da floresta.
Eles decidiram que não poderiam deixar Nina triste por mais tempo. Zé da Jaula explicou que precisavam de uma espécie específica de bambu, que só crescia em um lugar especial: o Jardim Botânico da cidade, a alguns quilômetros dali.
Bira, com um brilho nos olhos, exclamou: Eu posso ajudar, Zé!
Zé da Jaula sorriu. É uma boa ideia, Bira. Precisamos de alguém com olhos tão atentos quanto os seus para encontrar o bambu certo.
No dia seguinte, bem cedinho, Bira e Zé da Jaula embarcaram em uma pequena aventura. Eles foram ao Jardim Botânico, um lugar enorme e exuberante, cheio de plantas de todos os tipos e cores. Zé da Jaula tinha um mapa antigo do local, mas as trilhas pareciam ter mudado.
Bira, com sua energia de explorador, liderou o caminho, observando cada folha e cada planta. Eles caminharam por entre palmeiras gigantes e flores perfumadas. Zé da Jaula apontava para diferentes tipos de bambu, mas Bira lembrava-se do exato tom de verde e da textura das folhas do bambu favorito de Nina.
Depois de um tempo, quando já estavam quase desistindo, Bira avistou um aglomerado de bambu diferente, escondido atrás de um grande arbusto de hibisco.
Ele gritou, animado: Zé, olha! É ele! Tem as folhas largas e brilhantes, exatamente como eu me lembro!
Zé da Jaula se aproximou e confirmou. Era o bambu perfeito! Com cuidado, eles cavaram uma muda grande e a embrulharam para levar de volta ao zoológico. Foi um trabalho em equipe, com Zé usando sua pá e Bira segurando as folhas para não se danificarem.
Ao retornarem ao zoológico, plantaram o novo bambu no recinto de Nina. Assim que a tigresa viu a planta familiar, seus olhos se iluminaram. Ela se aproximou, cheirou as folhas frescas e, para a alegria de Bira e Zé, esfregou a cabeça no bambu, soltando um pequeno e suave ronronar de contentamento.
Bira sentiu o coração quentinho. Ele e Zé da Jaula tinham feito a diferença na vida de um animal tão magnífico. Nina estava feliz novamente, e o zoológico, para Bira, parecia ainda mais mágico, não por feitiços, mas pela magia da amizade, do carinho e da atenção. Ele sabia que cada animal tinha uma história, e que com um pouco de observação e muito carinho, todos poderiam viver felizes.
