Joca era um menino esperto, com olhos que brilhavam de curiosidade, mas às vezes, ah, às vezes o tédio o agarrava como um polvo gigante. Em um sábado chuvoso, quando todos os jogos pareciam sem graça e os livros, já lidos, Joca suspirou pela décima vez, estirado no tapete da sala.
— Ah, vó Marta! Estou tão entediado! — ele resmungou para sua avó, que estava costurando perto da janela.
Vó Marta, com seus óculos redondos e um sorriso que parecia guardar mil segredos, olhou para Joca. — Tédio, meu querido? Isso não combina com você. Venha, vou te mostrar um lugar que talvez cure essa… falta de ideias.
Joca, intrigado, seguiu a avó até um cômodo escondido atrás da despensa, um lugar que ele nunca tinha notado antes. Era um tipo de laboratório, mas não um laboratório comum. Havia engrenagens brilhantes, fios coloridos, e no centro, uma máquina reluzente que parecia ter saído de um sonho. — O que é isso, vó?
— Esta é minha Máquina de Brincar — disse Vó Marta, batendo levemente na lateral do aparelho. — Ela não cria brinquedos, Joca. Ela cria mundos. Quer entrar em um deles?
Os olhos de Joca se arregalaram. Um mundo? Sem pensar duas vezes, ele assentiu com a cabeça. Vó Marta ajustou alguns botões, e uma porta circular se abriu na máquina, revelando um brilho esverdeado. Joca deu a mão à avó, e juntos eles entraram.
Ao pisarem do outro lado, não estavam mais no laboratório. Estavam em um jardim. Mas que jardim! As flores eram do tamanho de árvores, com pétalas que brilhavam em cores nunca vistas. Borboletas gigantes com asas de arco-íris voavam preguiçosamente, e o ar tinha um cheiro doce e fresco.
— Uau! — Joca exclamou, correndo para tocar uma folha gigante. — Isso é real?
— Tão real quanto sua imaginação permitir — Vó Marta respondeu, rindo. — Este é o Jardim do Eco, um lugar onde a natureza e a tecnologia se encontram em harmonia.
De repente, um pequeno robô esférico, com dois grandes olhos azuis e braços flexíveis que terminavam em pinças, rolou até eles. — Olá! Sou Bolt, o jardineiro-chefe deste universo. Bem-vindos ao meu domínio!
Joca ficou fascinado. — Um robô jardineiro! Você cuida de tudo isso?
— Com a ajuda de muitos sensores e uma dose de curiosidade — Bolt respondeu, movendo suas pinças animadamente. — Há uma criatura que precisa de ajuda na Cachoeira Cintilante. Vocês querem me ajudar?
Joca e Vó Marta concordaram. Guiados por Bolt, eles exploraram o Jardim do Eco. Atravessaram pontes feitas de cipós luminosos, saltaram sobre riachos com peixes que brilhavam no escuro e escalaram cogumelos gigantes. Joca aprendeu sobre as plantas exóticas, a importância de cada pequeno inseto e como a água era reciclada em um ciclo perfeito.
Chegaram à Cachoeira Cintilante, onde viram uma pequena criatura, parecida com um caramujo com uma concha de cristal, presa entre algumas raízes. Joca, com a ajuda de Bolt, usou um galho forte para cuidadosamente libertar o caramujo, que imediatamente começou a brilhar ainda mais forte em agradecimento.
Ao final da tarde, com o pôr do sol digital pintando o céu de laranja e roxo, Joca sentiu o estômago roncar. — Acho que é hora de voltar, vó.
Eles se despediram de Bolt, que prometeu novas aventuras, e atravessaram a porta da Máquina de Brincar novamente. Estavam de volta ao laboratório de Vó Marta, mas o tédio de Joca havia desaparecido por completo. Ele olhava para a máquina com novos olhos, e para sua avó com um profundo carinho.
— O tédio não é uma coisa ruim, Joca — disse Vó Marta, enquanto guardava suas ferramentas. — Às vezes, ele é apenas um convite da sua mente para você usar a sua criatividade e procurar por algo novo. A vida está cheia de máquinas de brincar, basta saber onde procurar.
Joca sorriu. Ele sabia que, dali em diante, nunca mais ficaria entediado por muito tempo. Sempre haveria um novo mundo para explorar, uma nova criatura para ajudar, ou uma nova ideia para criar, bastava deixar a imaginação voar.
