Em Engenhópolis, a cidade onde cada rua era um convite à invenção e cada casa uma máquina de ideias, vivia Pedro. Com seus nove anos, ele tinha uma mente que fervilhava mais rápido que pipoca em panela quente. Pedro era um inventor nato, suas mãos pequenas criavam engenhocas que faziam os adultos coçarem a cabeça de admiração. O único detalhe era que, às vezes, sua imaginação voava tão alto que ele acabava se esquecendo de onde tinha deixado os pés. Um dia, ele podia estar montando um robô aspirador, e no outro, já estava criando um lançador de balões de água, deixando o robô pela metade.
Sua melhor amiga era Lina, uma menina de oito anos com olhos espertos e uma mochila sempre cheia de cadernos e canetas coloridas. Lina era a organização em pessoa. Enquanto Pedro inventava no fluxo, Lina anotava, planejava e, gentilmente, lembrava Pedro dos próximos passos. Ela era o porto seguro das ideias de Pedro.
No coração de Engenhópolis, escondido sob um monte de sucata brilhante, morava o Professor Grilo Olavo. Ele não era um grilo comum; era um cientista respeitado, com óculos minúsculos apoiados no nariz e um jaleco impecável. Seu laboratório subterrâneo, o Laboratório de Ideias Esquecidas, era um tesouro de projetos inacabados, tubos borbulhantes e engrenagens que giravam misteriosamente.
Um dia, a energia de Engenhópolis começou a falhar. As luzes piscavam, os transportes travavam e até as máquinas de sorvete faziam barulhos esquisitos. O grande Compensador de Energia Solar, que alimentava toda a cidade, estava com problemas. Peças cruciais haviam sumido, e o Professor Grilo Olavo sabia que precisava de mentes brilhantes para encontrá-las.
Ele chamou Pedro e Lina.
— Meus jovens inventores, precisamos de vocês! O Compensador está doente e as peças desapareceram. A cidade corre perigo! — disse o Professor Grilo Olavo, com sua voz calma.
Pedro, com os olhos brilhando de aventura, disparou para o laboratório. Lina, logo atrás, já com um mapa na mão. No Laboratório de Ideias Esquecidas, a mente de Pedro parecia um carrossel de invenções. Cada canto era um convite à distração.
— Olhe, Lina! Um propulsor de bolhas de sabão gigante! E este aqui? Parece um chapéu que te ajuda a pensar em tortas de morango! — exclamava Pedro, esquecendo-se da missão principal.
Lina, com paciência, segurava o braço dele.
— Pedro, lembra do Compensador? Precisamos achar as peças! Vamos por este corredor, que eu anotei aqui.
Eles vasculhavam o laboratório. Pedro encontrava um pedaço de fio, pensava numa maneira de fazer um carrinho de controle remoto voar. Lina o trazia de volta. Ele achava uma mola, imaginava um sapato que pulava. Lina o direcionava. O Professor Grilo Olavo observava, sorrindo discretamente. Ele sabia que a mente de Pedro funcionava de um jeito especial.
Depois de horas, Lina, consultando suas anotações, notou algo estranho. Algumas das peças que faltavam no Compensador pareciam ter características das invenções aleatórias que Pedro tinha começado no passado e esquecido.
— Pedro! Aquela engrenagem que você usou no seu projeto de escova de dentes autônoma… não é idêntica a uma das peças que faltam? — perguntou Lina.
Pedro olhou. Realmente! Suas distrações, na verdade, o levaram a criar soluções engenhosas, mas ele as havia inserido em outros projetos sem perceber a conexão com o Compensador.
— É isso! Minha mente estava voando tão rápido que eu criei as peças sem saber para onde elas iriam! — exclamou Pedro, surpreso.
Com a organização de Lina, que o ajudou a identificar cada parte, e a sabedoria do Professor Grilo Olavo, que guiou o processo, Pedro começou a remontar as peças. Ele usou sua incrível capacidade de focar intensamente em algo quando estava realmente interessado, e a energia que antes parecia dispersa agora se concentrava na tarefa.
O Compensador de Energia Solar voltou a funcionar com um brilho intenso, enchendo Engenhópolis de luz novamente. Pedro sorriu, não apenas orgulhoso da invenção consertada, mas por ter compreendido que sua mente, mesmo que às vezes desse umas voltinhas, era um verdadeiro superpoder. Lina o abraçou, feliz por seu amigo ter descoberto o quão incrível ele era. E o Professor Grilo Olavo sabia que Pedro havia aprendido uma lição valiosa: cada mente funciona de um jeito único, e é nas nossas diferenças que encontramos os maiores tesouros. A aventura de Pedro, o inventor distraído, mostrou a todos que a verdadeira genialidade está em abraçar quem somos, com todas as nossas peculiaridades.
