Lia era uma menina de oito anos com olhos curiosos e um coração um pouco tímido. Ela adorava as histórias que sua avó contava sobre a Floresta Sussurrante, um lugar mágico onde as árvores pareciam conversar com o vento e os riachos cantavam melodias suaves. Mas havia algo na floresta que deixava Lia apreensiva: os ecos misteriosos e os sons altos e inesperados que, segundo sua avó, eram as vozes da própria natureza.
Um dia ensolarado, Lia estava brincando perto da borda da floresta com seu amigo, Toco, um filhote de tamanduá-bandeira. Toco era pequeno e ágil, com um focinho comprido e olhos sempre alerta. Ele adorava explorar e, em um piscar de olhos, correu para dentro da Floresta Sussurrante, desaparecendo entre as folhas densas.
Lia chamou por ele, mas a floresta apenas respondeu com um eco distante de sua própria voz. Um calafrio percorreu a espinha de Lia. Ela sabia que Toco não conhecia os perigos dos sons que se amplificavam nas profundezas da floresta, e ele poderia se assustar. Seu coração apertou, mas o pensamento de Toco sozinho e com medo era ainda mais forte que seu próprio receio.
De repente, uma voz suave e rouca ecoou de uma árvore antiga. Era Dona Jurema, uma coruja com penas cinzentas e olhos dourados que pareciam ver tudo.
Os sons da floresta podem assustar se você não prestar atenção, disse Dona Jurema, com sua voz calma. Mas se você ouvir com o coração, verá que eles são apenas canções. O vento é o hálito da floresta, as folhas são suas palmas e o riacho é sua risada.
Lia respirou fundo, absorvendo as palavras da coruja sábia. Ela sentiu uma pontada de coragem crescer dentro dela. Afinal, Toco precisava dela. Com a coruja voando um pouco acima, Lia entrou na Floresta Sussurrante.
A princípio, cada som era um desafio. Um galho quebrando fazia Lia pular, um pica-pau tamborilando parecia um trovão. Mas ela se lembrou das palavras de Dona Jurema. Ela fechou os olhos por um instante e se concentrou. O sussurro do vento entre as folhas altas não era assustador, era como uma melodia suave. O borbulhar do riacho, que antes parecia uma risada estrondosa, agora soava como uma canção alegre. Até os ecos, que antes a intimidavam, se transformaram em brincadeiras da floresta, repetindo sua voz de forma divertida.
Lia seguiu as pegadas de Toco, que eram fáceis de ver no chão úmido. Ela encontrou o tamanduá encolhido em uma pequena caverna, tremendo de medo.
Toco, sussurrou Lia, está tudo bem. São só os sons da floresta.
Ela se sentou ao lado dele e, com a voz mais calma que conseguiu, começou a descrever cada som que ouvia, assim como Dona Jurema havia lhe ensinado. O som da água, o vento nas árvores, o canto dos pássaros. Toco, aos poucos, parou de tremer e olhou para Lia com seus olhinhos curiosos.
Juntos, eles saíram da caverna. Lia segurava a mãozinha peluda de Toco, guiando-o para fora da floresta. A cada passo, ela sentia que os sons não a assustavam mais. Pelo contrário, ela começou a apreciá-los, a sentir a vida pulsando ao redor.
Quando chegaram em casa, Lia abraçou Toco com força. Ela tinha ido a um lugar que antes a aterrorizava e tinha voltado mais forte, mais corajosa. Ela aprendeu que o desconhecido pode ser menos assustador quando se tenta compreendê-lo e que a amizade pode nos dar a força para superar qualquer medo. E os sussurros da floresta, ela percebeu, não eram de medo, mas sim de boas-vindas.
