Duda era uma menina de oito anos com os olhos que pareciam guardar estrelas e a mente sempre cheia de ideias. Ela morava em uma casa aconchegante, no alto de uma colina, de onde podia ver a cidade de Horizonte Colorido se estender, com seus telhados de todas as cores. Mas o lugar preferido de Duda não era nenhum canto da casa ou da cidade; era a Biblioteca dos Sonhos, um lugar que só existia em seus pensamentos mais profundos, flutuando entre as nuvens macias do céu.

Na Biblioteca dos Sonhos, cada livro era uma porta para um mundo novo. Havia livros com cheiro de floresta úmida, outros que sussurravam segredos do fundo do mar e alguns que brilhavam com a luz de planetas distantes. Duda passava horas imaginando como seria alcançar aquele lugar.

Um dia, enquanto desenhava em seu caderno, Duda ouviu um suave Bico-bico! na janela. Era Pipoca, um pequeno tico-tico com penas que cintilavam como arco-íris e um olhar muito esperto. Pipoca não era um pássaro comum; ele parecia entender cada um dos pensamentos de Duda.

Duda contou a Pipoca sobre seu sonho com a biblioteca nas nuvens. O passarinho inclinou a cabeça, piou uma melodia animada e, de repente, voou em direção a uma casa antiga e peculiar no fim da rua, que Duda nunca tinha notado de verdade.

Curiosa, Duda seguiu Pipoca. A casa era um emaranhado de engrenagens, tubos e antenas estranhas. Na porta, um homem idoso e simpático, com óculos que escorregavam no nariz e um sorriso acolhedor, a esperava. Era o Senhor Benício, o inventor mais excêntrico de Horizonte Colorido, mas que vivia recluso. Ele tinha uma máquina de fazer vento que criava redemoinhos para secar as roupas e um relógio que contava as horas para trás.

Senhor Benício parecia saber o que Duda e Pipoca procuravam. Ele convidou-os para entrar e mostrou um mapa antigo, amarelado pelo tempo, que revelava rotas aéreas secretas. Havia uma linha pontilhada que levava diretamente a um ponto acima das nuvens: exatamente onde Duda imaginava sua biblioteca.

Juntos, os três – Duda, Pipoca e Senhor Benício – começaram a trabalhar. Senhor Benício tinha uma invenção quase pronta, um balão diferente, feito de seda colorida e impulsionado por um sistema de pequenos ventiladores movidos a energia solar. O balão, que ele carinhosamente chamava de Sonhador Flutuante, precisava apenas de um pequeno ajuste: um motor de imaginação, que Duda, com sua mente cheia de sonhos, poderia fornecer.

Dias de trabalho e risadas se passaram. Duda ajudava a apertar parafusos, Pipoca trazia pequenas ferramentas e o Senhor Benício explicava o funcionamento de cada peça. A amizade entre eles cresceu forte, unida pelo objetivo de alcançar os sonhos de Duda.

Finalmente, o Sonhador Flutuante estava pronto. Numa manhã ensolarada, com o céu azul sem nenhuma nuvem à vista, eles subiram a bordo. O balão, impulsionado pela pura imaginação de Duda e pela inteligência de Senhor Benício, começou a subir. Pipoca voava alegremente em círculos ao redor deles.

Subiram mais e mais, passando por nuvens que pareciam algodão-doce. E então, lá estava ela: a Biblioteca dos Sonhos, exatamente como Duda a imaginara! Era uma estrutura magnífica de nuvens sólidas e transparentes, repletas de prateleiras infinitas com livros de todas as formas e tamanhos.

Ao entrarem, o cheiro de papel e histórias preencheu o ar. Duda correu pelas prateleiras, tocando os livros com carinho. Senhor Benício, com um brilho nos olhos, revelou um segredo: aqueles não eram apenas livros; eram os sonhos que as pessoas esqueciam ao acordar, as ideias que nunca tinham coragem de seguir e as esperanças guardadas no coração.

Duda pegou um livro que brilhava suavemente. Ao abri-lo, viu ilustrações de um garoto construindo uma ponte para unir duas colinas distantes e, em outra página, uma menina que pintava com as cores do vento. Eram os sonhos dos outros, ali, preservados.

A partir daquele dia, Duda, Pipoca e Senhor Benício se tornaram os guardiões da Biblioteca dos Sonhos. Eles não só visitavam o lugar, mas também ajudavam a catalogar novos sonhos que chegavam, ensinando às crianças de Horizonte Colorido a importância de nunca desistir de suas ideias, por mais distantes que pareçam. Eles aprenderam que os sonhos, quando compartilhados e nutridos com coragem e amizade, podem se tornar as mais belas realidades.