Era uma vez, no vibrante Bosque das Cores, onde cada folha e flor parecia dançar ao ritmo de uma melodia alegre, vivia um beija-flor chamado Bento. Bento não era um beija-flor comum; suas penas eram de um azul tão profundo que pareciam carregar um pedaço do céu, e seu voo era tão rápido que mal se podia vê-lo, apenas um rastro de brilho. Ele era a alegria em forma de pássaro, sempre visitando as flores mais altas e compartilhando risadas com as borboletas.
Mas, certo amanhecer, uma nuvem cinzenta parecia pairar sobre Bento. Não era uma nuvem de chuva, mas uma tristeza silenciosa que invadiu seu pequeno coração. Suas penas perderam o brilho, seu voo se tornou lento e pesado, e o néctar das flores, antes tão irresistível, agora parecia sem gosto. O Bosque das Coores, acostumado com a energia contagiante de Bento, começou a sentir a mudança. As flores pareciam um pouco mais murchas, e o canto dos pássaros, antes tão vibrante, parecia mais suave.
Lila, uma joaninha curiosa e com pintinhas vermelhas que se destacavam no verde das folhas, notou a melancolia de Bento. Ela sempre via o lado positivo em tudo e tinha um coração grande o suficiente para acolher a tristeza de um amigo. Preocupada, Lila decidiu procurar a mais sábia habitante do bosque, Dona Ipê, uma árvore centenária cujas folhas mudavam de cor não apenas com as estações, mas pareciam refletir o humor do próprio bosque.
Lila voou até os galhos mais baixos de Dona Ipê, que a acolheu com um leve farfalhar de folhas. A joaninha explicou a situação de Bento, e Dona Ipê ouviu atentamente. A árvore, com sua voz calma e sussurrante como a brisa, explicou que a tristeza é como uma nuvem passageira. Ela vem, cobre o sol por um tempo, mas sempre vai embora. O importante é saber que não estamos sozinhos e que pequenas alegrias, como raios de sol, podem dissipá-la.
Dona Ipê sugeriu que Bento precisava se lembrar do que o fazia feliz. Lila, com um brilho de esperança em seus olhos, voou para reunir os outros habitantes do bosque. Não demorou para que pequenas joaninhas trouxessem gotas de orvalho fresco em suas patinhas, formigas arrumassem pétalas coloridas cuidadosamente ao redor do galho onde Bento pousava, e a brisa, com a ajuda de pequenos ventos, sussurrasse as canções mais suaves que conheciam.
No início, Bento mal percebia esses gestos. A tristeza era como um véu que embaçava sua visão. Mas Lila não desistiu. Ela voava perto dele, contando histórias de outras flores que desabrocharam após a chuva, de riachos que encontraram seu caminho para o mar, e da beleza escondida em cada cantinho do bosque. Lila o encorajou a observar o orvalho cintilante, o voo sincronizado das borboletas coloridas, o aroma suave de uma flor recém-aberta.
Aos poucos, um calorzinho começou a surgir no peito de Bento. Era uma pequena faísca de esperança. Ele tentou um voo curto, apenas o suficiente para sentir o vento em suas asas novamente. De repente, viu uma flor nova, de um lilás intenso, que havia brotado durante sua tristeza. Um leve desejo de experimentar seu néctar surgiu.
Com o encorajamento de Lila e o silêncio acolhedor de Dona Ipê, Bento mergulhou na flor. O néctar era doce, mais doce do que ele lembrava. A cada gota, suas cores começavam a vibrar novamente, um azul intenso retornando às suas penas. Ele percebeu que a tristeza, embora profunda, não o prendia mais. Com seus amigos ao lado, ele havia reencontrado a alegria nas pequenas coisas e em suas próprias cores vibrantes. O Bosque das Cores, sentindo a mudança em Bento, irrompeu em uma explosão de cores e vida, mais alegre do que nunca, mostrando que a amizade e o apoio podem sempre dissipar as nuvens da tristeza.
