Flora era uma menina com olhos cor de jabuticaba e uma imaginação que voava mais alto que qualquer pipa. Ela passava horas em seu quintal, deitada na grama verdinha, observando as nuvens preguiçosas que desenhavam figuras no céu azul. Para Flora, as nuvens não eram apenas vapor dágua; elas eram guardiãs de segredos, mensagens não ditas e, quem sabe, de sonhos esquecidos.
Um dia, enquanto Flora tentava adivinhar se uma nuvem parecia um dinossauro ou um sorvete gigante, algo inesperado aconteceu. Um pequeno aparelho voador, que parecia um chapéu com hélices, desceu em espiral e pousou com um suave baque perto dela. De dentro, surgiu um ouriço muito simpático, com óculos redondos e uma pequena maleta cheia de ferramentas. Era Zeca, um inventor que vivia na floresta próxima e tinha uma mente brilhante.
Olá, pequena sonhadora, disse Zeca, ajeitando seus óculos. Você também vê os sonhos nas nuvens?
Flora arregalou os olhos. Sonhos nas nuvens? Ela perguntou, curiosa.
Zeca sorriu, seu narizinho tremelicando. Sim! Cada nuvem que vemos é feita de pedacinhos de sonhos que as pessoas esqueceram. Sonhos antigos, desejos perdidos na correria do dia a dia. Minha missão é coletá-los e, quem sabe, encontrar um jeito de devolvê-los.
Flora ficou maravilhada. Ela sempre soube que as nuvens eram especiais!
Você quer vir comigo? Perguntou Zeca, apontando para o aparelho voador, que ele chamava de Voador-Sonhador. Vamos até o Jardim das Nuvens Sonhadoras, onde todos esses pedacinhos se juntam.
Sem pensar duas vezes, Flora aceitou. Ela subiu no Voador-Sonhador, que era surpreendentemente confortável por dentro. Zeca acionou alguns botões, as hélices giraram suavemente, e eles subiram, passando por cima das árvores, das casas e, finalmente, mergulhando entre as próprias nuvens.
Foi mágico! O Jardim das Nuvens Sonhadoras era um lugar de beleza indescritível. Nuvem-montanhas de algodão doce se estendiam por quilômetros, com vales feitos de névoa cintilante. Havia nuvens que pareciam um arco-íris de tão coloridas, e outras que brilhavam como estrelas cadentes. Cada uma guardava um tipo diferente de sonho: havia nuvens de sonhos de voar, de construir castelos, de inventar curas, de abraçar o mar.
Flora e Zeca passearam pelo jardim flutuante, coletando cuidadosamente os fragmentos de sonhos em pequenos frascos. Eles encontraram sonhos de músicos que queriam compor a mais linda melodia, de pintores que sonhavam com cores nunca vistas, e até de crianças que sonhavam em construir o maior avião de papel do mundo.
Flora percebeu algo importante: a tristeza de um sonho esquecido não era permanente. Com cuidado e atenção, esses sonhos podiam ser reacendidos.
Com os frascos cheios, Zeca ajustou o Voador-Sonhador para uma tarefa especial. Ele abriu um compartimento, e Flora, com a ajuda de Zeca, começou a liberar os fragmentos de sonhos de volta para o ar, espalhando-os suavemente. Eles viram os pedacinhos coloridos dançarem no vento, descendo gentilmente em direção à terra.
Naquela noite, muitas pessoas na cidade de Flora acordaram com um sorriso, lembrando-se de um desejo antigo, de uma ideia brilhante que haviam guardado no fundo do coração. Um músico pegou seu instrumento, um inventor fez um novo esboço, e muitas crianças voltaram a desenhar com mais cores e a brincar com mais imaginação.
Flora e Zeca se tornaram grandes amigos. Eles continuaram suas viagens ao Jardim das Nuvens Sonhadoras, lembrando a todos, sem precisar dizer uma palavra, que sonhar é a maior aventura que podemos ter. E que, mesmo que um sonho se perca por um tempo, ele nunca desaparece completamente, esperando apenas um coração corajoso para encontrá-lo novamente e fazê-lo voar.