Marina, uma menina de oito anos com olhos curiosos e um chapéu de palha sempre torto, adorava desvendar os mistérios da natureza na Floresta Escondida. Era um lugar mágico – não de magia de fadas, mas da beleza pura das árvores imponentes e do riacho de águas cristalinas que cantava suavemente. O ar cheirava a terra molhada e orvalho, e a luz do sol filtrava entre as copas das árvores, criando desenhos dançantes no chão de folhas. Ela sentia que a própria floresta sussurrava segredos antigos.
Um dia, enquanto caminhava entre as samambaias gigantes, Marina ouviu uma agitação incomum. Era Cacau, um sagui pequeno com pelos castanhos e olhos vivos, conhecido por sua agilidade e por ser um pouquinho possessivo com as frutas da floresta. Ele pulava de galho em galho, resmungando alto e balançando sua cauda peluda.
— Mas que audácia! — exclamava Cacau, apontando uma patinha para um grupo de pássaros. — Essas frutas são minhas! Minhas! Eu vi primeiro!
Marina se aproximou, observando o pequeno sagui tentar espantar uns pássaros que estavam bicando umas frutinhas vermelhas suculentas. Ela reconheceu a árvore: era Seu Barbatimão, uma árvore milenar com um tronco rugoso que parecia contar histórias silenciosas.
— Bom dia, Cacau! Por que tanta agitação? — perguntou Marina com sua voz suave, que sempre parecia acalmar os ânimos da floresta.
Cacau franziu o focinho. — Eles estão comendo as frutas da minha árvore! Eu queria todas para mim!
As folhas de Seu Barbatimão balançaram suavemente, como se em um aceno sábio. Marina se aproximou do tronco e encostou o ouvido, como sempre fazia para sentir os ensinamentos da árvore.
— Cacau — disse Marina, depois de ouvir o suave sussurro do Barbatimão —, as frutas de Seu Barbatimão não são só suas. A floresta é de todos. Os pássaros também precisam se alimentar para ter energia e espalhar as sementes, o que ajuda novas árvores a crescerem. Seu Barbatimão diz que todos aqui precisam um do outro. Se você pegar tudo, não sobrará para ninguém. E quem sabe, um dia você pode precisar da ajuda deles.
Cacau fez bico. Ele não gostava da ideia de compartilhar. Para ele, o que estava ao seu alcance era seu e ponto final. Mas as palavras de Marina, que ecoavam o sussurro de Seu Barbatimão, o fizeram pensar. Ele pulou para um galho mais alto, ainda um pouco amuado, mas a semente da reflexão havia sido plantada.
Alguns dias depois, uma tempestade forte e inesperada chegou à Floresta Escondida. O vento uivava entre as copas das árvores, e a chuva caía com força, fazendo o riacho inchar e as folhas voarem. Cacau estava abrigado sob umas folhas grandes e resistentes, tremendo de medo. Durante a ventania, ele tinha visto sua fruta preferida, uma jabuticaba brilhante e quase madura, ser derrubada para um emaranhado de raízes e galhos caídos, um lugar de difícil acesso. Ele tentou alcançá-la, mas o emaranhado era muito denso e perigoso.
Os pássaros, que Cacau havia espantado com tanto alarde, estavam agora seguros e secos em seus ninhos nas copas mais altas. Um deles, um pequeno passarinho de peito amarelo e penas vibrantes, percebeu o desespero de Cacau e sua expressão de tristeza. Ele voou cuidadosamente até o galho onde Cacau estava encolhido.
— O que houve, Cacau? — perguntou o passarinho com uma voz delicada, que o vento quase levou.
— Perdi minha jabuticaba! E eu não consigo pegar! — choramingou Cacau, apontando para o emaranhado de raízes com uma patinha. Uma lágrima escorreu de seu olho.
O passarinho não hesitou. Ele voou até a fruta, que estava presa firmemente. Com seu bico minúsculo e forte, ele conseguiu soltá-la e, com muito cuidado e esforço, a empurrou até perto de Cacau, que assistia a tudo de olhos arregalados.
Cacau ficou surpreso. — Você me ajudou — ele balbuciou —, mesmo depois de eu ter sido tão… egoísta e ter te espantado?
O passarinho balançou a cabeça, suas penas molhadas pela garoa. — Todos precisamos de ajuda, Cacau. E aqui na floresta, aprendemos a respeitar uns aos outros. Se um de nós tem demais, e o outro tem de menos, podemos compartilhar. É assim que vivemos em harmonia.
Marina, que havia ido verificar como todos estavam depois da tempestade, ouviu a conversa. Ela sorriu. Seu Barbatimão parecia sussurrar um tom de satisfação, suas folhas balançando gentilmente como um aplauso silencioso.
Cacau olhou para a jabuticaba em suas patinhas, depois para o passarinho, e finalmente para Marina. Ele sentiu um calor diferente em seu peito, algo melhor do que ter todas as frutas para si. — Eu entendi, Marina. Seu Barbatimão estava certo. É muito importante respeitar o espaço de todos e compartilhar. Me desculpe por ter sido tão possessivo com as frutas. De agora em diante, vou ser diferente.
A partir daquele dia, Cacau aprendeu uma lição valiosa. Ele continuou pulando e explorando, mas sempre deixava uma parte das frutas para os outros animais da floresta, e sempre oferecia sua ajuda quando via alguém em apuros. A Floresta Escondida ficou ainda mais feliz, com todos vivendo em harmonia, respeitando o proximo e compartilhando as belezas e os recursos da natureza, mostrando que a cooperação é a chave para a verdadeira felicidade.
