Na Floresta das Cores Vibrantes, onde as árvores tinham folhas de tons que mudavam com o vento e os rios brilhavam com reflexos de arco-íris, morava Cadu, uma capivara muito especial. Cadu era calmo e observador, adorava sentir a brisa nas suas costas e mordiscar as gramíneas macias da beira do rio. Mas, ultimamente, uma pergunta martelava na sua cabecinha: Quem sou eu? Ele conhecia seu nome, sabia que gostava de nadar e de frutas suculentas, mas sentia que havia algo mais.
Um dia, enquanto Jaci, uma tucana de penas coloridas e bico que parecia uma obra de arte, pintava com pigmentos naturais, Cadu se aproximou.
Jaci, você que vê tantas cores e formas, você sabe quem é? perguntou Cadu, com a voz baixinha.
Jaci sorriu, misturando um azul celeste com um amarelo vibrante. Cadu, eu sou Jaci, a artista que encontra a beleza em cada detalhe. Eu me descubro um pouco mais a cada pincelada, a cada cor que eu crio. E você? O que te faz brilhar?
Cadu pensou. Ele não pintava, não cantava como os pássaros. Ele apenas era Cadu. Desanimado, ele foi encontrar Leco, um mico-estrela saltitante e cheio de energia. Leco estava tentando equilibrar três coquinhos na cabeça.
Leco, você sabe quem você é? perguntou Cadu, observando o amigo rir quando os coquinhos caíram.
Eu sou o Leco, o mico que adora desafios e nunca para quieto! disse Leco, com um pulo. Eu sou quem se diverte e faz os amigos rirem. Quem é você, Cadu?
A pergunta de Leco fez Cadu refletir ainda mais. Ele não era barulhento como Leco nem criativo como Jaci. Ele era diferente. Ele ouviu uma vez uma lenda sobre a Flor Cintilante, uma flor rara que crescia no alto das Colinas Sussurrantes e que diziam revelar segredos. Talvez ela pudesse lhe dizer quem ele era.
Determinado, Cadu se despediu dos amigos e partiu em sua jornada. A Floresta das Cores Vibrantes era linda, mas o caminho para as Colinas Sussurrantes era desconhecido. Ele passou por árvores gigantes com troncos que pareciam de cobre e riachos que cantavam melodias estranhas. Sua calma natural o ajudou a atravessar pontes de cipó balançantes sem medo e a encontrar o caminho certo entre pedras escorregadias.
Em um trecho mais denso, Cadu ouviu um choro. Era Leco, que havia se aventurado sozinho e perdido seu cacho de bananas favorito. Cadu, com paciência, cheirou o chão e seguiu o rastro, encontrando as bananas escondidas entre umas folhas enormes. Leco ficou radiante, abraçando Cadu com força. Obrigado, Cadu! Você é o melhor farejador!
Mais adiante, perto de uma cascata secreta, Cadu viu Jaci desanimada. Ela procurava um pigmento roxo raro que só crescia ali, mas não o encontrava. Cadu, com seus olhos atentos, observou as pedras úmidas e apontou para uma pequena planta brilhante escondida atrás de uma rocha. Era o pigmento de Jaci. Jaci, feliz, misturou-o imediatamente. Cadu, você tem um olhar tão aguçado! Você é quem encontra o que está escondido!
Chegando ao topo das Colinas Sussurrantes, Cadu finalmente encontrou a Flor Cintilante. Ela era pequena, com pétalas que brilhavam com as cores do pôr do sol. Cadu se ajoelhou e olhou para dentro dela, esperando a grande revelação. A flor, como um espelho de água, refletiu a imagem de Cadu: seus olhos curiosos, seu focinho gentil, um sorriso singelo.
Cadu entendeu. A flor não lhe disse uma resposta pronta. Ela apenas mostrou a ele quem ele era naquele momento, refletindo suas experiências. Ele era a capivara que ajudava os amigos, que explorava com coragem, que observava o mundo com carinho. Ele era Cadu, e isso era mais do que suficiente. Ele era quem ele escolhia ser a cada dia.
Com o coração cheio de alegria, Cadu desceu as colinas, pronto para compartilhar sua descoberta. Ele não precisava de uma resposta mágica, pois a verdadeira resposta estava dentro dele e nas suas ações. Ele era Cadu, um amigo leal, um explorador curioso e um ser único na Floresta das Cores Vibrantes. E ele amava ser quem era.
