Na vasta e reluzente Floresta Cristalina, onde as folhas pareciam feitas de esmeralda e os rios de puro brilho, vivia Pingo. Ele era um pequeno ser feito de orvalho e luz, com pernas ágeis e olhos curiosos que nunca paravam de buscar algo novo. Pingo saltitava entre os musgos macios, corria pelas raízes aéreas das árvores e mergulhava nas águas cintilantes, sempre em movimento. Ao seu lado, muitas vezes, estava Faísca, um vaga-lume minúsculo com um brilho que piscava mais rápido que um piscar de olhos, sempre correndo para seguir Pingo.
Pingo via tudo: as borboletas com asas de arco-íris, os cogumelos que emitiam uma luz suave e os pássaros que cantavam melodias complexas. No entanto, por mais que visse e corresse, uma sensação de inquietação o acompanhava. Era como se houvesse um pequeno burburinho dentro dele que nunca silenciava.
Um dia, exausto de tanto correr, Pingo se sentou à sombra de uma gigantesca árvore que parecia tocar o céu. Era Dona Sereníssima, um baobá ancião cujos galhos largos se estendiam como braços acolhedores. Dona Sereníssima tinha um tronco robusto e uma voz suave como o farfalhar das folhas.
Olá, Pingo, disse Dona Sereníssima com um sorriso gentil. Vejo que está um pouco agitado hoje.
Pingo suspirou. Estou sempre agitado, Dona Sereníssima. Vejo tantas coisas lindas, mas parece que nunca consigo aproveitar de verdade. É como se eu estivesse sempre procurando a próxima coisa brilhante.
Faísca, que tinha se aproximado, concordou com um piscar rápido. É verdade. Meus olhos ficam cansados de tanto ver e meu brilho nunca se acalma.
Dona Sereníssima fechou os olhos por um momento, inspirando profundamente o ar perfumado da floresta. A paz não é algo que você encontra lá fora, meus pequenos. Ela mora aqui dentro, apontou Dona Sereníssima para o peito de Pingo.
Pingo franziu a testa. Mas como eu a encontro?
Você já tentou apenas… ser? perguntou Dona Sereníssima, abrindo os olhos. Sente-se. Sinta o chão sob você. Ouça o vento sussurrar entre minhas folhas. Respire fundo, enchendo seu pequeno corpo de ar fresco e solte devagar, liberando todo o burburinho.
Pingo e Faísca se entreolharam, curiosos. Pingo se sentou, tentando imitar a respiração calma de Dona Sereníssima. No início, sua mente ainda voava como um beija-flor. Mas ele persistiu. Inspirou, expirou. Inspirou, expirou.
Lentamente, algo começou a mudar. O burburinho interno de Pingo diminuiu. Ele começou a notar o brilho suave das folhas que pareciam dançar com a brisa, o murmúrio distante do rio e o calor gentil do sol em sua pele. Faísca, ao seu lado, também começou a piscar de forma mais lenta e constante.
Não é incrível? sussurrou Dona Sereníssima. Quando você acalma o que está dentro, o mundo ao seu redor também parece mais calmo. Você não precisa correr para encontrar a beleza. Ela está sempre aqui, esperando que você a perceba.
Pingo abriu um sorriso, um sorriso diferente de todos os outros que ele já havia dado. Era um sorriso que vinha de um lugar profundo e tranquilo dentro dele. Ele se sentiu leve, como uma pluma levada pela brisa. Faísca, com seu brilho agora suave e constante, pousou no ombro de Pingo.
Eu sinto, Dona Sereníssima, disse Pingo, sua voz quase um sussurro. Sinto uma paz tão grande.
E assim, Pingo e Faísca aprenderam que a verdadeira aventura não era correr de um lado para o outro, mas sim encontrar o silêncio e a beleza que existem quando se para para ouvir o próprio coração. A Floresta Cristalina continuava a brilhar, mas agora, Pingo e Faísca também brilhavam com uma luz especial, a luz da paz interior.



















