No coração de uma cidade movimentada, escondido entre casas coloridas e telhados pontudos, ficava o Laboratório-Jardim do Professor Sabichão. Não era um laboratório comum, nem um jardim simples. Era um lugar onde plantas exóticas de folhas roxas e flores que cantavam viviam lado a lado com máquinas borbulhantes e engenhocas que pareciam saídas de um sonho. Lá morava o Professor Sabichão, um homem de cabelos brancos esvoaçantes e um sorriso que podia iluminar até o dia mais nublado. E, claro, Faísca, seu pequeno robô assistente, que rodopiava alegremente sobre suas três rodinhas, com luzes coloridas piscando em seu corpo metálico.

Certo dia, Amélia, uma menina de olhos vivazes e um nariz muito, muito sensível, foi visitar seus amigos. Ela adorava o Professor e a energia de Faísca, mas tinha uma regra de ouro: tudo o que parecesse esquisito demais, cheirasse estranho ou tivesse uma textura grudenta, causava-lhe um tremendo… nojo.

Professor Sabichão estava mais animado do que o normal. Ele apontava para uma grande tigela de vidro no centro da bancada. Dentro dela, algo brilhava com uma luz suave e esverdeada, como um vaga-lume gigante. Era uma massa gelatinosa, espessa e vibrante.

Vejam só, meus queridos! Exclamou o Professor, com um brilho nos olhos. Apresento a vocês a minha mais nova invenção: a Geleia Luminosa!

Faísca, com seus sensores ativados, rodou em direção à tigela, emitindo bipes de curiosidade. Mas Amélia parou no meio do caminho. Seus olhos se arregalaram. A gosma balançava lentamente, e um cheiro suave, mas diferente de tudo o que ela conhecia, pairava no ar. Não era um cheiro ruim, mas era… esquisito. E aquela textura! Imaginou a gosma em seus dedos e um arrepio subiu pela sua espinha.

Não, obrigada, Professor, disse Amélia, dando um passo para trás. Que nojo! Parece um monstro pegajoso!

O Professor Sabichão riu, um som parecido com o tilintar de sinos. Ah, Amélia, minha pequena exploradora de cheiros, não seja tão rápida em julgar! Esta geleia é muito especial. Faísca, poderia por favor explicar para a Amélia o que faz a Geleia Luminosa?

Faísca, com um pequeno clique, projetou hologramas coloridos no ar. Análise da Geleia Luminosa: Composta de extrato de musgo do brilho, orvalho da madrugada e pólen de flor-noturna. Função: Biofertilizante natural para plantas tímidas. Benefício: Ajuda as plantas a florescerem e emitirem luz suave.

Amélia ainda estava cética. Mas, Professor, ela é tão… gosmenta! E o cheiro é tão… diferente!

O Professor pegou uma pequena colher e com muito cuidado, mostrou um pouco da geleia. Imagine, Amélia, que algumas plantas são como pessoas: um pouco tímidas. Elas precisam de um empurrãozinho para mostrar toda a sua beleza. Esta geleia não é pegajosa para elas. É como um abraço quentinho de nutrientes. E o cheiro? É o perfume da natureza em sua forma mais concentrada.

Faísca, então, conduziu Amélia até um cantinho do jardim onde algumas plantas estavam um pouco murchas. Com seus braços robóticos, o pequeno assistente aplicou uma pequena quantidade da Geleia Luminosa no solo ao redor de uma florzinha de pétalas pálidas.

No início, nada aconteceu. Amélia observava, ainda com uma pontinha de nojo misturada com curiosidade. Mas então, devagar, como se respirasse fundo, a flor começou a se transformar. Suas pétalas pálidas ganharam tons vibrantes de azul e rosa, e um brilho suave e perolado começou a emanar delas. O cheiro estranho da geleia se misturou com um perfume doce e floral, que encheu o ar.

Uau! Exclamou Amélia, esquecendo completamente o nojo. Ela se aproximou, observando a florzinha agora radiante. É linda!

Viu só? Disse o Professor, com um sorriso vitorioso. Nem tudo que parece estranho ou nos causa uma sensação de nojo é realmente ruim. Às vezes, as coisas mais incomuns guardam as maiores surpresas e belezas. Basta um pouco de curiosidade e coragem para olhar além da primeira impressão.

Amélia, com seu nariz agora cheio de um perfume delicioso, tocou as pétalas da flor brilhante. Ela ainda não queria tocar na geleia diretamente, mas seu nojo havia diminuído muito. Ela aprendeu que o mundo é cheio de coisas maravilhosas, algumas delas um pouco esquisitas no começo. E que a verdadeira aventura começa quando a gente decide dar uma chance ao que é diferente. Daquele dia em diante, Amélia passou a olhar para as novidades com mais curiosidade e menos nojo, sabendo que a beleza pode vir em muitas formas, até mesmo nas mais gosmentas e brilhantes.