Na Floresta Viva, um lugar onde a natureza pulsava em cores e sons, vivia um sagui muito esperto chamado Cícero. Com seus olhos curiosos e uma agilidade de dar inveja, ele explorava cada galho, cada flor, sempre em busca de novas descobertas. A maior alegria da floresta era a Grande Jabuticabeira, uma árvore centenária que, em certas épocas, cobria-se de frutas roxas e doces, prontas para serem colhidas e compartilhadas entre todos os moradores.
A colheita das jabuticabas era uma festa. Os pássaros cantavam mais alto, os macacos faziam acrobacias e até as onças pintadas pareciam mais sorridentes. Mas, em uma estação, algo estranho começou a acontecer. As jabuticabas estavam sumindo. Não eram poucas, eram muitas. Sumiam antes mesmo de amadurecerem por completo, deixando um rastro de frustração entre os bichos. A alegria da Floresta Viva começou a ser substituída por uma ponta de desconfiança. Quem estaria pegando as frutas sem permissão?
Cícero, o sagui, não conseguia se conformar. Ele amava as jabuticabas e, mais que isso, amava a harmonia da floresta. Decidiu que descobriria o mistério. Começou a observar. Escondido entre as folhas, Cícero notou pequenos rastros e galhos balançando em momentos incomuns. Ele seguiu uma trilha sutil que levava para um canto mais isolado da floresta, onde morava Dona Jurema.
Dona Jurema era uma preguiça muito sábia. Seus movimentos eram lentos, mas sua mente era rápida e suas palavras, ponderadas. Ela era a conselheira da Floresta Viva. Cícero contou a ela sobre as jabuticabas que sumiam. Dona Jurema, com um olhar calmo, disse: Cícero, observe sem julgar. Às vezes, as coisas não são o que parecem. Procure entender o coração do problema, não apenas o que seus olhos veem.
Cícero seguiu o conselho de Dona Jurema. Ele continuou sua investigação, prestando atenção em cada detalhe. Foi então que ele viu. Não um ladrão mal-intencionado, mas Quinzinho, um jovem quati com um narizinho sempre farejando. Quinzinho estava pegando as jabuticabas escondido, com uma expressão triste e envergonhada no rosto. Ele as comia depressa, parecendo não sentir o sabor, e depois se escondia.
Cícero, em vez de repreendê-lo, foi até Dona Jurema. Eles se aproximaram de Quinzinho juntos, com gentileza. O quati, ao ser descoberto, baixou as orelhas e começou a chorar. Entre soluços, Quinzinho revelou que se sentia muito sozinho e tinha vergonha de pedir. Ele achava que ninguém o notaria ou o incluiria na festa das jabuticabas. Então, pegava escondido porque queria um pouco daquela doçura só para ele, mas logo se arrependia da sua atitude.
Dona Jurema, com sua voz suave, explicou a Quinzinho que pegar algo que não é seu sem permissão é uma atitude que machuca a todos, porque quebra a confiança. Ela disse que é muito importante sempre pedir e que compartilhar é um ato de amor e amizade. Não roubar é respeitar o que é do outro e é um caminho para a honestidade. Ela o lembrou que pedir ajuda ou expressar um desejo é muito melhor do que pegar algo escondido.
Cícero, por sua vez, abraçou Quinzinho e o convidou para participar da colheita oficial, garantindo que ele seria muito bem-vindo. Juntos, os três, o sagui ágil, a preguiça sábia e o quati arrependido, reuniram as jabuticabas restantes da Grande Jabuticabeira. Eles organizaram uma grande festa, onde Quinzinho ajudou a distribuir as frutas e sentiu a alegria de compartilhar.
A Floresta Viva voltou a ser um lugar de total confiança e alegria. Todos aprenderam que a honestidade e a amizade são os frutos mais doces que se pode colher. E que, se alguém precisa de algo, o melhor caminho é sempre pedir e nunca, jamais, pegar o que não é seu sem permissão. Quinzinho se tornou um grande amigo de Cícero e Dona Jurema, e nunca mais pegou nada sem perguntar. A lição sobre não roubar e o poder do diálogo se espalhou por toda a floresta, garantindo que a Grande Jabuticabeira sempre tivesse suas frutas compartilhadas com amor e respeito.



















