No vibrante Bairro das Invenções, onde esferas de transporte rolavam suavemente por trilhos de energia e casas flutuavam como balões coloridos, vivia o Professor Astrogildo, uma coruja de óculos redondos e penas cinzentas que sempre exalava cheirinho de eletrônicos novos. Seu laboratório era um verdadeiro parque de diversões tecnológicas, com engenhocas piscando e zumbindo em cada canto. Ao seu lado estavam Lina, uma menina de cabelos cacheados e olhos curiosos que pareciam ver faíscas de ideias em todo lugar, e Tonico, um robô baixinho e simpático que apitava alegremente enquanto organizava parafusos e engrenagens.
O Professor Astrogildo estava eufórico. Sua mais recente criação, o Pacificador de Disputas, estava pronto para ser apresentado. Este aparelho, com sua estrutura prateada e luzes que mudavam de cor, prometia transformar qualquer briga em uma melodia suave de entendimento.
Ah, Professor, mal posso esperar para ver o Pacificador em ação! disse Lina, saltitando ao lado dele.
Pii-pop! Eu também estou animado! completou Tonico, fazendo um barulho feliz.
Naquele mesmo dia, um pequeno incidente agitou o bairro. A esfera de transporte do Sr. Bonifácio, um texugo bibliotecário muito organizado que adorava o silêncio, colidiu levemente com a esfera da Dona Cleide, uma lontra construtora cheia de energia, que estava sempre com seu capacete de segurança. Não foi nada grave, mas ambos ficaram um pouco irritados.
Ora essa! exclamou o Sr. Bonifácio, ajustando seus óculos. Veja por onde anda, Dona Cleide!
Eu que digo! retrucou a Dona Cleide, gesticulando com as patas. Você estava distraído com seus livros!
As vozes começaram a se elevar. O Professor Astrogildo, ao ver a cena, apressou-se com o Pacificador de Disputas. Ele ativou a máquina, mas nada aconteceu. As luzes piscaram, mas a briga continuou. Lina e Tonico observaram, confusos.
Professor, a máquina não está funcionando! disse Lina, preocupada.
Pii-poop… Talvez precise de um toque especial, sugeriu Tonico.
O Professor Astrogildo coçou a cabeça, pensativo. De repente, um brilho surgiu em seus olhos. A máquina não funciona se as pessoas estiverem com raiva no coração, explicou ele. O Pacificador de Disputas precisa de um toque de amizade para começar sua melodia. Ele não pode forçar a paz, ele apenas amplifica a gentileza que já existe.
Lina teve uma ideia. Ela se aproximou do Sr. Bonifácio e da Dona Cleide.
Sr. Bonifácio, Dona Cleide, será que vocês poderiam tentar conversar um pouquinho? perguntou Lina, com sua voz doce. Aconteceu um acidente, mas ninguém se machucou.
Tonico, então, estendeu uma pata mecânica. Posso ajudar a arrumar as esferas de transporte, pii-pop, com um sorriso.
Sr. Bonifácio e Dona Cleide, que estavam prestes a continuar a discussão, olharam para Lina e Tonico. A gentileza em suas vozes os fez parar. Eles se entreolharam, um pouco envergonhados.
Tem razão, Lina, disse Dona Cleide, baixando o tom. Não foi nada demais.
É verdade, concordou o Sr. Bonifácio. Desculpe-me, Dona Cleide. Eu estava um pouco irritado.
Dona Cleide sorriu. E eu também, Sr. Bonifácio.
No momento em que os dois se deram as mãos, um gesto simples de desculpas e amizade, o Pacificador de Disputas começou a brilhar intensamente. Uma melodia suave e alegre se espalhou por todo o Bairro das Invenções, acalmando todos os corações e preenchendo o ar com harmonia. O Professor Astrogildo sorriu.
Viram? A verdadeira mágica não está na máquina, mas na capacidade de sermos gentis e de conversarmos para resolver nossos problemas, sem precisar bater ou brigar.
A partir daquele dia, o Pacificador de Disputas não era mais uma máquina para acabar com brigas, mas um instrumento musical que todos podiam tocar juntos, simbolizando que a união e a gentileza construíam as mais belas sinfonias. E assim, no Bairro das Invenções, todos aprenderam que as mãos são feitas para abraçar, ajudar e criar, nunca para bater.
