Na Cidade Sussurrante, onde os prédios pareciam cochichar segredos ao vento e os veículos flutuavam sem fazer barulho, vivia um menino chamado Chico, o Curioso. Ele tinha olhos grandes e curiosos que observavam tudo, especialmente os estranhos hábitos da cidade. As ruas eram forradas com jardins suspensos, e a música suave vinha de todas as esquinas, criada por Dona Jurema, a Engenheira de Sons.
Dona Jurema era uma senhora cheia de ideias, sempre com óculos na ponta do nariz e um avental manchado de óleos coloridos. Ela construía invenções incríveis que produziam sons de chuva, risadas de crianças ou o murmúrio do rio. Seu ajudante era Bolota, um robô pequeno e arredondado, com luzes que piscavam em todas as cores do arco-íris, refletindo suas emoções. Quando Bolota estava feliz, suas luzes brilhavam em tons vibrantes de azul e verde. Mas quando estava triste ou assustado, elas piscavam em vermelho fraco.
Chico adorava visitar o ateliê de Dona Jurema. Um dia, enquanto brincava perto de Bolota, Chico sem querer esbarrou em uma mesa, fazendo uma pilha de engrenagens cair com um estrondo alto. As luzes de Bolota imediatamente mudaram para um vermelho alarmante e ele começou a se encolher, emitindo um chiado triste.
Oh, meu querido Bolota! exclamou Dona Jurema, correndo para consolar o robô. Ele é muito sensível a batidas e barulhos fortes, Chico. Na Cidade Sussurrante, onde o silêncio é tão importante, precisamos ter cuidado com nossos movimentos.
Chico sentiu uma pontada no coração. Ele não havia percebido o quanto uma batida poderia afetar alguém. Ele passou a observar mais. Percebeu que às vezes, na pressa de brincar, algumas crianças esbarravam nos brinquedos umas das outras, ou sem querer empurravam a porta com força. E a cada batida, por menor que fosse, parecia que a melodia suave da Cidade Sussurrante ficava um pouquinho desafinada, e as luzes de Bolota ficavam mais opacas.
Chico, com sua curiosidade habitual, teve uma ideia. Dona Jurema, e se a gente inventar um jeito de mostrar para todo mundo a importância de não bater? Não só em coisas, mas nas pessoas também. Para que Bolota possa estar sempre feliz, com suas luzes coloridas!
Dona Jurema sorriu, ajustando os óculos. Que ideia brilhante, Chico! Vamos criar a Campanha da Harmonia Suave.
Eles começaram a trabalhar. Dona Jurema construiu pequenos sinos de vento feitos de um material especial que só tilintavam com a passagem de movimentos muito suaves. Se alguém esbarrasse neles, não fariam barulho. Chico, por sua vez, desenhou pequenos cartões com ilustrações de Bolota sorrindo com suas luzes coloridas e a frase: Mova-se com carinho, viva em harmonia.
A dupla, acompanhada de Bolota, começou a distribuir os sinos e os cartões pela cidade. Chico explicava para as crianças que cada toque suave ajudava a manter a felicidade de Bolota e a calma da Cidade Sussurrante. Dona Jurema mostrava como os sinos funcionavam, incentivando a todos a praticarem movimentos mais delicados.
No começo, alguns achavam engraçado, mas aos poucos, todos começaram a prestar atenção. Viram como as luzes de Bolota brilhavam mais e mais vibrantes a cada gesto gentil. Os sinos de vento tilintavam suavemente em portas e janelas, lembrando a todos do carinho.
A Cidade Sussurrante se tornou ainda mais harmoniosa. As crianças brincavam com mais atenção, as pessoas se moviam com mais cuidado. Não era mais sobre não fazer barulho, mas sobre a consciência de cada ação, de como pequenos gestos podem afetar a todos ao redor.
Bolota, com suas luzes sempre em tons alegres, era o maior exemplo da importância de não bater, de agir com gentileza e respeito. E Chico, o Curioso, descobriu que o maior segredo da harmonia não estava nos prédios que sussurravam, mas nos corações que se moviam com carinho.