No coração da vibrante Vila da Brisa, onde o sol beijava as casinhas coloridas e o cheiro do mar se misturava ao da mata, vivia um menino chamado Joca. Joca tinha a imaginação tão fértil quanto o jardim da Dona Lúcia, e adorava contar histórias. Às vezes, suas histórias eram tão grandiosas que se esticavam um pouquinho, como um elástico bem puxado. Sua melhor amiga era Olívia, uma menina de olhos curiosos e um sorriso doce, que sempre levava um livro consigo e adorava a verdade tanto quanto Joca gostava de inventar.
Um dia, enquanto exploravam o antigo moinho de vento desativado, Joca, com um ar de mistério, sussurrou para Olívia:
— Psst! Olívia, você não vai acreditar no que eu descobri na Floresta do Sussurro!
Olívia fechou seu livro e arqueou uma sobrancelha.
— O quê, Joca? Mais um tesouro escondido ou um mapa secreto para o reino das formigas gigantes?
Joca balançou a cabeça com seriedade.
— Não, muito melhor! Eu encontrei uma pedra… uma pedra falante! Ela sabe todos os segredos e só conta a verdade para quem a toca!
Os olhos de Olívia se arregalaram. Ela adorava histórias, mas era muito esperta.
— Uma pedra falante? Joca, você tem certeza? Como ela fala? Tem boca?
Joca riu, coçando a cabeça.
— Bem, não exatamente uma boca, mas é como se a gente sentisse as palavras dentro da cabeça. É incrível! Quer ver?
No fundo, Joca sabia que não havia pedra falante nenhuma. Ele só queria impressionar Olívia. Mas agora que ela estava tão animada, ele não sabia como voltar atrás. Ele pensou: “Ah, eu invento uma desculpa quando a gente chegar lá”.
No dia seguinte, sob um sol brilhante, Joca e Olívia embrenharam-se na Floresta do Sussurro. O canto dos pássaros e o cheiro de terra molhada preenchiam o ar. Joca tentava enrolar, apontando para árvores diferentes, inventando nomes para as folhas. Olívia, porém, estava determinada.
— Joca, essa não é a direção do riacho. A pedra falante não fica perto daquele carvalho antigo que você me descreveu?
Joca sentiu um calafrio na barriga. Eles estavam se aproximando da área onde ele tinha dito que a pedra estava. De repente, avistaram uma figura curvada sobre um mapa, examinando o chão com uma lupa. Era o Senhor Sabino, o geólogo aposentado, conhecido por sua paixão por pedras e rochas.
— Olá, crianças! O que fazem por aqui neste pedregal? — perguntou o Senhor Sabino, com um sorriso gentil.
Joca sentiu o rosto esquentar.
Olívia, sem rodeios, respondeu:
— Joca nos trouxe para ver a pedra falante que ele descobriu!
O Senhor Sabino olhou para Joca, que agora parecia querer virar uma rocha ele mesmo.
— Uma pedra falante, é? Fascinante! Eu coleciono pedras há sessenta anos e nunca encontrei uma que falasse. Me diga, Joca, como ela é? Que histórias ela conta?
Joca gaguejou, tentando formular uma explicação.
— Er… ela… ela é… uhm… ela fala baixinho… só com quem acredita muito… e hoje… hoje ela não deve estar muito… falante.
O Senhor Sabino se sentou em um tronco caído, sinalizando para que as crianças se aproximassem.
— Sabe, Joca, todas as pedras contam histórias. Não com a voz, mas com a forma, as cores, os minerais. Elas nos contam sobre o tempo, sobre o calor do centro da Terra, sobre a força da água. Para entender essas histórias, precisamos olhar com atenção e, acima de tudo, sermos honestos com o que vemos e sentimos.
Ele pegou uma pequena pedra brilhante.
— Esta aqui, por exemplo, é um quartzo. Ela demorou milhares de anos para se formar. Cada brilho é um segredo da natureza, uma verdade que ela nos revela se formos pacientes para aprender.
Joca olhava para o quartzo na mão do Senhor Sabino, depois para o rosto de Olívia, que o observava com uma mistura de curiosidade e tristeza. Ele sentiu um nó na garganta.
— Senhor Sabino, Olívia… me desculpem. Eu… eu inventei a história da pedra falante. Eu só queria que fosse mais emocionante. Eu queria impressionar a Olívia.
As palavras saíram de uma vez, e um peso saiu de seus ombros.
Olívia se aproximou e tocou o ombro de Joca.
— Joca, você não precisa inventar histórias para me impressionar. Suas histórias são incríveis mesmo quando não têm pedras falantes de verdade. E a verdade, ela é sempre mais bonita, não acha?
O Senhor Sabino sorriu.
— A verdade é como uma rocha sólida, Joca. Pode ser simples, mas é a base para tudo que é real e confiável. As invenções são divertidas para brincar, mas a verdade é para construir.
Joca assentiu, sentindo um calor bom no peito. Ele havia aprendido que a imaginação é um tesouro, mas a honestidade é um farol. A partir daquele dia, Joca continuou contando suas histórias fantásticas, mas agora, ele sempre começava dizendo: Era uma vez, em um lugar que só existe na minha imaginação… E todos sabiam que ele estava prestes a levá-los a uma aventura que era tão verdadeira quanto a amizade entre ele, Olívia e o sábio Senhor Sabino.
