Léo morava em uma casa de madeira aconchegante, construída em um dos galhos mais altos da Araucária-Mundo, uma árvore tão antiga e imponente que parecia tocar o céu. Durante o dia, seu quarto era um festival de luz solar e cores vibrantes. Mas, quando a noite chegava e a escuridão se espalhava, um friozinho na barriga de Léo aparecia. Não era um medo de monstro ou bicho-papão, mas um receio do vazio que o escuro parecia trazer.
Uma noite, enquanto Léo observava as primeiras estrelas surgirem, Dona Cotovia pousou suavemente na janela. Ela era uma cotovia muito sábia, com penas cinzentas e óculos minúsculos que usava na pontinha do bico.
Boa noite, Léo, disse Dona Cotovia, notando o olhar um pouco apreensivo do menino. Parece que a escuridão trouxe alguma preocupação.
É que… é tão escuro, Dona Cotovia. Não consigo ver nada, e parece que tudo some, respondeu Léo, baixinho.
Ora, meu caro, a escuridão não faz as coisas sumirem. Ela as prepara para brilhar de um jeito diferente, disse a cotovia, com um sorriso gentil. O escuro é um grande palco onde a luz e a vida noturna se apresentam. Que tal uma pequena missão para descobrir os segredos luminosos da noite?
Léo arregalou os olhos. Uma missão? Ele adorava a ideia de aventuras!
Mas… eu tenho medo do escuro, sussurrou.
Você não estará sozinho, meu jovem explorador, piou Dona Cotovia.
E de repente, um pequeno ponto de luz verde piscou e voou para dentro do quarto. Era Faísca, um vaga-lume minúsculo e corajoso, com quem Léo adorava brincar.
Ouvi falar em missão e brilho! Estou pronto!, zumbiu Faísca, voando em círculos animados.
Faísca será sua lanterna e seu guia. Ele conhece os caminhos noturnos da Araucária-Mundo como ninguém, explicou Dona Cotovia. Lembre-se, a coragem não é a ausência de medo, mas a vontade de seguir em frente mesmo com ele.
Com o coração um pouco acelerado, mas a curiosidade em chamas, Léo pegou sua pequena mochila de explorador e seguiu Faísca. O vaga-lume liderou o caminho, seu brilho verde iluminando as folhas e os galhos que antes pareciam mergulhados no nada.
Eles desceram por um cipó que balançava suavemente com a brisa noturna. Léo sentia o cheiro doce das flores da noite e ouvia o sussurro das folhas. Faísca parou em um galho mais largo, apontando com seu brilho para uma flor nunca antes vista por Léo. Era uma Flor-Luzeiro, suas pétalas brancas e delicadas emitindo uma suave luminosidade azulada.
Ela só abre à noite, Léo, sussurrou Faísca, e seu perfume atrai os polinizadores noturnos.
É linda!, disse Léo, maravilhado, esquecendo um pouco do seu receio.
Continuaram a jornada. Faísca o levou a um tronco oco, onde minúsculos cogumelos bioluminescentes formavam um tapete de pontinhos de luz, parecendo pequenas estrelas caídas na madeira. Léo observou um grilo saltitante, que cantava sua melodia suave, preenchendo o ar com uma canção de ninar da natureza.
Cada descoberta era um presente da noite. Léo percebeu que o escuro não era um vazio assustador, mas um lugar cheio de vida escondida, de luzes secretas e de sons aconchegantes. A escuridão era como um cobertor macio que guardava e revelava belezas diferentes das do dia.
Depois de um tempo, Faísca sinalizou que era hora de voltar. Léo subiu de volta para sua casa na árvore, seu coração cheio de uma nova compreensão. Ele olhou para o seu quarto, agora totalmente escuro, mas não sentiu mais o friozinho na barriga. Ele sabia que por trás da ausência de luz, havia um mundo esperando para ser descoberto e admirado.
Dona Cotovia o esperava na janela.
E então, meu jovem explorador?, perguntou ela, com um brilho nos olhos.
O escuro é incrível, Dona Cotovia!, exclamou Léo, sorrindo. Ele tem suas próprias luzes e músicas. E eu não tenho mais tanto medo dele.
Faísca piscou alegremente, e Léo sentiu uma onda de coragem. Ele havia transformado seu medo em uma aventura, e agora sabia que a noite era apenas um novo tipo de dia, cheio de suas próprias maravilhas. E, com uma pequena lanterna e um amigo vaga-lume, ele estava pronto para qualquer escuridão.
