Isabela era uma menina de sete anos com cachos castanhos e olhos curiosos, mas havia algo que a deixava sempre com um nó na barriga: o escuro. Quando o sol se punha e os últimos raios alaranjados desapareciam, seu quarto parecia se transformar em um esconderijo de sombras misteriosas. Cada ruído se amplificava, cada forma se distorcia e, na sua mente, o que era familiar durante o dia se tornava assustador na noite.

Uma noite, após o jantar, Isabela se arrastou para a cama, encolhendo-se debaixo do cobertor. A pequena luz de seu abajur mal afastava as grandes manchas escuras que dançavam pelos cantos do quarto. De repente, um brilho suave e pulsante chamou sua atenção vindo da janela. Era uma luz gentil, como um pedacinho de estrela que tivesse caído na terra. A curiosidade de Isabela, por um breve momento, foi maior que o medo.

Com cuidado, ela se levantou e espiou pela janela. Lá fora, entre as árvores que faziam fronteira com seu jardim, havia uma criatura pequena e arredondada, emitindo um fulgor morno. Era Lumi, um fungo luminoso da Floresta da Lua, um lugar que Isabela só havia visitado durante o dia, quando tudo era verde e claro. Lumi tinha olhos grandes e brilhantes e um sorriso gentil que parecia acender ainda mais sua luz.

Olá, Isabela, disse Lumi com uma voz que parecia um murmúrio de folhas ao vento. Percebo sua preocupação. Posso te mostrar algo que talvez mude sua forma de ver a noite?

Isabela hesitou, mas a doçura na voz de Lumi e a promessa de algo novo a encorajaram. Ela assentiu, e Lumi a esperou perto da janela. Isabela desceu com cuidado, sentindo o orvalho gelado na grama sob seus pés descalços.

Na Floresta da Lua, o que antes era uma tela de cores diurnas, agora era um espetáculo de luzes e sombras. Lumi a guiou por uma trilha onde pequenas flores noturnas, que dormiam durante o dia, abriam suas pétalas iridescentes, exalando um perfume adocicado. Isabela nunca imaginou que existissem flores assim.

Veja, Isabela, explicou Lumi, algumas belezas só se revelam quando o sol se vai. O escuro não esconde as coisas, ele as transforma e nos mostra um novo espetáculo.

Eles caminharam por um riacho onde a água, calma e espelhada, refletia mil estrelas, como se o céu tivesse caído ali. Pequenos insetos com asas transparentes dançavam, deixando rastros luminosos no ar. Corujas voavam em silêncio, seus olhos redondos observando o mundo com uma tranquilidade que contagiou Isabela. Ela ouviu o sussurro do vento entre as árvores, o crocitar distante de grilos e o coaxar de sapos, uma sinfonia da noite que antes parecia assustadora e agora soava como uma canção de ninar.

Lumi a levou até uma clareira onde a grama brilhava com minúsculas gotículas de orvalho, e as árvores pareciam esculturas escuras contra o céu estrelado. Era um tipo de beleza diferente daquela do dia, mais serena, mais íntima.

O medo é como uma sombra grande, disse Lumi, olhando para o céu. Ele cresce quando não sabemos o que está escondido nela. Mas se acendemos uma pequena luz, ou se olhamos com atenção, percebemos que a sombra é apenas um pano de fundo para outras maravilhas.

Isabela sentiu seu coração se encher de uma nova sensação. Não era mais medo, era admiração. Ela percebeu que a escuridão não era um vazio ameaçador, mas um véu que guardava um mundo secreto, esperando ser descoberto.

Quando o primeiro tom azulado do amanhecer começou a tingir o horizonte, Lumi a guiou de volta para casa. Isabela abraçou seu pequeno amigo luminoso, sentindo-se grata pela aventura.

Obrigada, Lumi, ela disse. Agora, o escuro não me parece tão assustador. Na verdade, estou curiosa para ver o que mais ele me mostrará.

De volta ao seu quarto, Isabela deitou-se na cama. As sombras ainda estavam lá, mas agora ela as via de outra forma. Ela imaginou as flores noturnas desabrochando, os insetos luminosos dançando e as estrelas brilhando no riacho da Floresta da Lua. Ela fechou os olhos, um sorriso suave nos lábios, e adormeceu sem medo, sabendo que, mesmo na mais profunda escuridão, sempre haveria um brilho secreto esperando para ser encontrado.