No coração do Vale Verde, um lugar onde a natureza mostrava sua mais bela pintura, ficava o Jardim das Especiarias Antigas. Não era um jardim comum, mas um tesouro de plantas raras e milenares, algumas com folhas que brilhavam ao sol e outras com flores que desabrochavam apenas à noite. Lá vivia Flora, uma menina de oito anos com olhos curiosos e um sorriso gentil, sempre acompanhando seu avô, Seu Elias, um botânico de grande renome.
Flora amava o jardim mais do que qualquer coisa. Ela conhecia cada canteiro, cada árvore, e até mesmo o antigo Bromélio, uma planta colossal que se erguia majestosa no centro do jardim. O Bromélio não falava com palavras, mas Flora sentia sua presença sábia, como um amigo silencioso que observava tudo.
Um dia, Seu Elias estava radiante. Ele havia acabado de receber uma semente raríssima, que se acreditava extinta há séculos: a semente da Flor-Estrela-Cadente. Era pequena, de um tom azul celeste, e cintilava suavemente, como um pedacinho do céu noturno.
Esta semente é um milagre, Flora, disse Seu Elias, com os olhos brilhando. Vamos plantá-la com todo o cuidado para que seu brilho possa novamente alegrar o mundo.
Ele colocou a preciosa semente em um vaso especial de cerâmica, sobre uma mesa, e foi buscar terra enriquecida. Flora, cheia de admiração, aproximou-se para ver a semente de perto. Era tão linda. Ela esticou a mãozinha e, com a ponta dos dedos, tocou a semente delicadamente. Mas, em um instante, a semente escorregou de seus dedos, rolou pela mesa e caiu no chão. Ela quicou suavemente e foi parar num canteiro próximo, misturando-se com dezenas de outras sementes parecidas, de plantas comuns do jardim.
Um nó se formou na garganta de Flora. Seu coração batia forte, como um tambor de guerra. O que seu avô diria? Ele estava tão feliz! Ela pensou em pegar qualquer semente do canteiro e colocá-la de volta no vaso, agindo como se nada tivesse acontecido. Ninguém perceberia, certo? Uma semente é apenas uma semente, ela pensou.
Flora olhou para o chão, depois para o vaso vazio. Sentiu um calor estranho no peito, uma sensação incômoda. Seus olhos se voltaram para o grande Bromélio, que parecia observá-la com sua calma milenar. De repente, as palavras de sua avó ecoaram em sua mente: Flora, a honestidade é como a água pura, ela sempre encontra seu caminho e nutre tudo ao redor, fazendo a vida crescer forte e verdadeira.
Aquelas palavras trouxeram uma clareza. Não adiantaria enganar seu avô. A semente falsa nunca daria a Flor-Estrela-Cadente, e a verdade, como a água, um dia encontraria seu caminho, talvez quando fosse tarde demais.
Com os pés pesados, mas o coração um pouco mais leve, Flora foi até onde seu avô estava. Seu Elias, ela começou, com a voz baixinha. Aconteceu algo com a semente da Flor-Estrela-Cadente.
Flora contou tudo, desde o toque curioso até a semente rolando para o canteiro. Seu Elias ouviu atentamente, sem dizer uma palavra. Quando ela terminou, ele se ajoelhou e olhou nos olhos da neta. Flora, você foi muito corajosa em me contar a verdade, disse ele, com um sorriso amoroso. É a coisa mais importante que você poderia ter feito.
Juntos, eles foram ao canteiro. Com paciência e usando uma pequena lupa, Seu Elias examinou cada semente. E lá estava ela! A semente da Flor-Estrela-Cadente tinha uma minúscula manchinha prateada, quase invisível, que a distinguia das outras. Graças à honestidade de Flora, eles conseguiram encontrá-la.
Com cuidado, Seu Elias plantou a semente mágica em seu vaso especial. Semanas depois, uma pequena haste brotou, seguida por uma flor azul-celeste que brilhava com uma luz própria, exatamente como uma estrela cadente.
Flora aprendeu que a verdade, mesmo quando assusta no começo, é o caminho mais bonito e mais gratificante. Ela trouxe de volta a Flor-Estrela-Cadente ao mundo e fortaleceu ainda mais o amor e a confiança entre ela e seu avô. E o Bromélio, no centro do jardim, parecia balançar suas folhas suavemente, como se estivesse aplaudindo a honestidade da pequena Flora.
