No coração verdejante do Pantanal, onde o sol beijava a água e as folhas dançavam com a brisa, vivia uma capivara muito especial. Seu nome era Clara e ela tinha um brilho nos olhos que combinava com seu amor por tudo o que era limpo e organizado. O lugar favorito de Clara era um riacho cristalino, tão puro que se podia ver cada pedrinha no fundo e cada peixinho a nadar. Clara passava horas arrumando as folhinhas caídas e garantindo que cada flor aquática estivesse em seu devido lugar. Para ela, um riacho limpo era um riacho feliz.
Perto dali, nas árvores altas e cheias de frutos, morava Didi, um macaco-prego cheio de energia e alegria. Didi adorava pular, balançar e, principalmente, comer frutas saborosas. Mas, em sua empolgação, ele acabava esquecendo de onde jogava as cascas ou as sementes. Pequenos pedacinhos de bagunça acompanhavam Didi por onde ele ia, inclusive nas margens do riacho de Clara.
Um dia, Clara estava organizando suas flores aquáticas quando viu uma casca de banana boiando perto de suas plantas preferidas. Depois, notou algumas sementes de jabuticaba afundando. Ela suspirou. Sabia que era Didi. Clara amava a alegria de Didi, mas a bagunça no seu riacho a deixava um pouquinho triste.
Foi então que Dona Flora, uma coruja-buraqueira de óculos pequenos e sabedoria infinita, observou a cena de sua toca escondida entre as raízes de uma árvore. Dona Flora era conhecida por suas conversas calmas e conselhos que faziam a gente pensar. Ela voou suavemente até Didi, que estava se preparando para jogar mais uma casca de manga no riacho.
Olá, Didi, disse Dona Flora com sua voz tranquila. Que manga deliciosa.
Didi sorriu, mas abaixou a mão com a casca.
Didi, continuou Dona Flora, você já reparou como o riacho de Clara é bonito? Ele brilha tanto que parece um espelho.
Sim, Dona Flora, é o lugar mais lindo do Pantanal, respondeu Didi, sem entender onde a conversa ia chegar.
E você sabe por que ele brilha tanto?, perguntou a coruja, pousando ao lado dele.
Ah, porque a água é assim, naturalmente, disse Didi, sem muita certeza.
Não só por isso, Didi. É também porque alguém cuida dele com muito carinho e atenção, mantendo-o sempre limpo. O cuidado com o lugar onde vivemos é como um carinho que damos à natureza e a nós mesmos. Você já pensou que um lugar limpo nos deixa mais alegres e saudáveis?
Didi olhou para a casca em sua mão, depois para o riacho, e finalmente para Clara, que ainda tentava arrumar as sementes flutuantes. Ele sentiu um calorzinho no coração. Dona Flora não estava dando bronca, estava apenas ensinando.
Dona Flora, eu não tinha pensado nisso de verdade, disse Didi, um pouco envergonhado. Eu só queria brincar e não prestei atenção.
A coruja piscou um de seus olhos sábios. Não faz mal, Didi. O importante é aprender e começar a cuidar. Que tal se você e Clara trabalhassem juntos para deixar o riacho ainda mais brilhante?
Os olhos de Didi se arregalaram. Ele pulou animado. Que ótima ideia, Dona Flora!
Ele correu até Clara, com um sorriso sincero. Clara, me desculpe! Eu não pensei na sujeira. Podemos limpar o riacho juntos?
Clara, que estava acostumada a fazer tudo sozinha, ficou surpresa e seus olhos voltaram a brilhar. Sim, Didi! Vamos!
E assim, Didi e Clara começaram a trabalhar lado a lado. Didi, com sua agilidade, pegava as cascas e as sementes que tinham caído nas margens, enquanto Clara, com sua organização, as levava para um lugar onde pudessem virar adubo para a terra. Eles riam, conversavam e até inventavam músicas sobre a limpeza.
O riacho de Clara nunca esteve tão limpo e reluzente. E o mais importante: Clara e Didi descobriram que cuidar da higiene do seu lar e de si mesmos era muito mais divertido quando feito com amigos. A partir daquele dia, Didi sempre se lembrava de onde colocar suas cascas e Clara tinha um sorriso ainda maior, sabendo que seu riacho brilhava não só pela limpeza, mas pela amizade e pelo cuidado compartilhado. E Dona Flora, de sua toca, observava tudo, feliz por ver mais uma lição de vida ensinada com amor e cooperação no coração do Pantanal. O Pantanal inteiro parecia sorrir, com o riacho brilhando como um diamante sob o sol.



















