Era uma vez, em um lugar onde as árvores mais altas pareciam tocar as nuvens e as folhas dançavam com o vento, vivia uma menina chamada Júlia. Ela tinha acabado de se mudar para uma casa bem pertinho da Floresta Esplendorosa, um lugar com plantas de cores vibrantes e um riacho que cantava baixinho. Júlia era curiosa e seus olhos brilhavam ao descobrir cada cantinho novo.
Um dia, enquanto explorava, Júlia notou um tamanduá-bandeira, grandão e de focinho comprido, chamado Tico. Ao contrário dos outros animais que pareciam sempre alegres, Tico ficava mais afastado, observando tudo em silêncio. Seus olhos castanhos pareciam carregar uma leve tristeza, mesmo quando o sol brilhava. Júlia tentou se aproximar, acenando, mas Tico rapidamente se virou e sumiu entre as árvores.
Confusa, Júlia conversou com Aurora, uma coruja-buraqueira de penas cinzentas e olhos inteligentes, que costumava ficar empoleirada no galho mais alto da árvore mais antiga. Aurora era conhecida por sua sabedoria e por sempre entender as coisas que os outros não notavam.
Ah, Tico, disse Aurora com sua voz suave, ele é um ser muito especial. Tico consegue sentir o que todos sentem na floresta, as alegrias, os medos, até a sede de uma pequena flor. Mas, às vezes, é demais para ele. Ele sente tanto que acaba se isolando para não se sobrecarregar.
Júlia arregalou os olhos. Então Tico não estava triste por ela, estava sentindo as emoções de todo mundo! Aquele sentimento era a empatia. A partir daquele dia, Júlia decidiu que ajudaria Tico a se sentir compreendido. Ela passou a observar mais, a escutar os sussurros do vento e a melodia das folhas. Ela começou a perceber quando o riacho estava agitado, não só pela chuva, mas talvez pela aflição de um pássaro que perdeu seu ninho. Ela aprendeu a ler os pequenos sinais de Tico: o jeito que suas antenas se mexiam, a direção do seu olhar, o balançar discreto de sua cauda.
Um dia, a floresta parecia mais silenciosa do que o normal. Júlia sentiu um aperto no peito, uma sensação de preocupação pairando no ar. Ela procurou Aurora, que estava com uma expressão séria. O lago, Júlia. Ele precisa de ajuda. Os peixes estão sentindo falta de algo.
Júlia lembrou-se de Tico. Ela o encontrou perto do lago, com o focinho no chão, visivelmente incomodado. Ela se aproximou devagar e sentou-se a uma distância respeitosa. Eu sinto, Tico. Sinto que algo está faltando no lago.
Tico levantou a cabeça, surpreso. Era a primeira vez que alguém parecia entender o que ele estava sentindo sem que ele dissesse uma palavra. Ele apontou com o focinho para um arbusto de frutas vermelhas que ficava à beira do lago. As frutas caíam na água e serviam de alimento para alguns peixes e seres minúsculos, mas o arbusto estava seco.
Júlia correu para pegar água no riacho e regou o arbusto. Aurora, voando por perto, chamou outros animais para ajudar a trazer mais água. Em pouco tempo, o arbusto começou a reviver. Tico observou a cena, e um sorriso quase imperceptível surgiu em seu rosto comprido. Ele sentiu a alegria dos peixes, a gratidão do arbusto e o alívio de todos os que dependiam dele.
A partir desse dia, Júlia, Tico e Aurora se tornaram grandes amigos. Júlia aprendeu a se colocar no lugar dos outros, a ter empatia. Tico aprendeu que não precisava se isolar, pois havia quem o entendesse e o ajudasse a transformar sua sensibilidade em um dom. Ele se tornou o Guardião dos Sentimentos da Floresta, alertando os amigos sobre as necessidades dos outros. E Júlia se tornou a ponte entre o mundo dos humanos e a profunda sabedoria da natureza, sempre com um coração aberto para sentir e entender. A Floresta Esplendorosa nunca mais foi a mesma, vibrando com a harmonia que a empatia trouxe.
