Em um canto vibrante do mundo existia uma cidade chamada Vila Brilhante. Suas casas eram de todas as cores imagináveis, os jardins explodiam em tons de verde e rosa, e até os pássaros pareciam mais coloridos ali. Mas um dia, uma névoa persistente e sutil começou a descer sobre a cidade. Não era uma névoa comum, parecia sugar a vivacidade das cores, deixando tudo um pouco mais pálido e sem graça. Os vermelhos pareciam laranjas desbotados, os azuis quase cinzas, e o verde dos gramados mal se distinguia.
Olívia, uma menina de cabelos encaracolados e olhos curiosos como duas jabuticabas brilhantes, foi a primeira a notar a mudança. Ela adorava desenhar e suas caixas de lápis de cor estavam cheias de tons vibrantes, mas quando tentava pintar Vila Brilhante, algo estava faltando. Sua amiga inseparável, Lola, uma borboleta azul-turquesa cujas asas mudavam de tom com a luz, também parecia menos brilhante. Lola voava em círculos, suas asas antes cintilantes, agora um azul mais suave.
Olívia e Lola decidiram que não podiam ficar paradas enquanto a cidade perdia seu brilho. Elas sabiam de alguém que talvez pudesse ajudar: o Professor Clemente. Ele morava em uma torre de vidro no alto da colina mais alta de Vila Brilhante, um lugar que ele chamava de Observatório Cromático. Diziam que ele estudava a luz e todas as suas maravilhas.
Subir a colina foi uma pequena aventura. O ar estava mais pesado, e as flores no caminho pareciam envergonhadas, com suas cores quase sumindo. Ao chegarem à torre, um emaranhado de lentes, espelhos e prismas girava gentilmente com o vento. Professor Clemente, um senhor de cabelos brancos bagunçados e óculos redondos que escorregavam no nariz, as recebeu com um sorriso.
Bom dia, Olívia e Lola, disse ele, ajustando os óculos. Sinto o cheiro do problema no ar. A Poeira do Desânimo chegou.
Olívia arregalou os olhos. Poeira do Desânimo? perguntou ela.
O Professor Clemente suspirou. Não é uma poeira de verdade, minha querida. É como um véu invisível que se forma quando as pessoas param de prestar atenção nas cores que as cercam. Elas ficam tão ocupadas que esquecem de olhar para o azul do céu, o verde das folhas ou o vermelho de uma maçã. Quando isso acontece, as cores parecem sumir. Mas elas estão lá, apenas esperando para serem notadas.
Então, como fazemos para as cores voltarem? perguntou Olívia, ansiosa.
O Professor Clemente apontou para um grande mapa de Vila Brilhante pendurado na parede. Precisamos reativar os Pontos de Cor da cidade. São lugares onde a cor é mais abundante e vibrante, mas que talvez estejam esquecidos ou escondidos. Tenho uma Lente da Percepção que pode nos ajudar, mas precisamos encontrar os lugares certos.
A primeira parada foi o Antigo Mural do Artista Desconhecido, escondido atrás de uma praça movimentada. Com o tempo, heras e musgos tinham crescido sobre ele, e as pessoas passavam sem sequer notar as cores vibrantes que um dia cobriram a parede. Olívia e Lola, com a ajuda do Professor Clemente e sua Lente da Percepção, que revelava os contornos vibrantes por baixo da sujeira, começaram a limpar a hera. Lola voava rapidamente, suas asas vibrando para afastar as folhas. Logo, um dragão azul-turquesa, pássaros vermelhos e flores amarelas começaram a emergir. As pessoas que passavam paravam, admiradas. Um pouco do brilho voltou ao ar.
Em seguida, foram ao Jardim Secreto da Vovó Aurora. Ele costumava ser o jardim mais colorido da cidade, mas desde que a Vovó Aurora se mudou, ninguém mais o cuidava. Ervas daninhas cobriam as flores, e as cores estavam escondidas. Olívia, Lola e o Professor Clemente passaram a tarde removendo as ervas daninhas e regando as poucas flores que restavam. À medida que o solo úmido recebia a luz, pequenas pétalas roxas, laranjas e cor-de-rosa começaram a aparecer, mais fortes e vibrantes do que antes. Lola dançava entre elas, e a Poeira do Desânimo pareceu ficar um pouco mais fina.
Por fim, a última parada foi a Montanha dos Cristais, um lugar onde, dizia a lenda, pedras brilhantes guardavam os mais belos tons. Mas a trilha estava coberta por galhos secos e a entrada da caverna, bloqueada por rochas. Com coragem e trabalho em equipe, Olívia, o Professor Clemente e até Lola, que usava seu pequeno bico para ajudar a mover galhinhos, limparam o caminho. Dentro da caverna, a Lente da Percepção do Professor Clemente revelou um espetáculo. Não eram cristais gigantes, mas pequenas pedras que, quando a luz certa as atingia, irradiavam todas as cores do arco-íris. Eles as posicionaram de forma que a luz do sol as atingisse e o brilho se espalhasse por toda a caverna e para fora dela.
Quando Olívia, Lola e o Professor Clemente retornaram a Vila Brilhante, a cidade estava diferente. A Poeira do Desânimo tinha quase desaparecido. As casas pareciam mais vivas, os jardins mais alegres. O céu estava de um azul tão profundo que parecia pintado na hora. As pessoas sorriam mais, apontando para as cores que antes não notavam. A aventura de Olívia e Lola ensinou a todos uma lição valiosa: as cores estão sempre lá, basta olharmos com atenção e apreciarmos a beleza que nos cerca. E assim, Vila Brilhante voltou a ser a cidade mais colorida e feliz do mundo, cheia de cores que brilhavam ainda mais porque haviam sido redescobertas com carinho e amizade.
