Na vibrante Vila Harmonia, onde as casas eram pintadas com todas as cores do arco-íris e as ruas sempre ressoavam com risadas e canções, vivia um menino muito especial chamado Mário. Mário tinha a pele cor de chocolate, um sorriso que iluminava o dia e uma paixão imensa pela música. Ele adorava ouvir as histórias que o vento trazia das árvores da Floresta Sussurrante e o murmúrio alegre do Rio Cantante.
Um dia, enquanto explorava o sótão da casa de sua avó, Mário encontrou um objeto empoeirado e misterioso: um tambor antigo. Ele era feito de madeira escura e tinha entalhes bonitos, mas estava silencioso. Mário tentou bater nele, mas nenhum som saiu. Apenas um oco e triste silêncio. Mário sentiu um aperto no coração. Ele queria muito que aquele tambor, que parecia ter tantas histórias para contar, pudesse cantar.
Sua melhor amiga, Isadora, uma menina com cabelos que pareciam nuvens e olhos curiosos como os de um gatinho, percebeu a tristeza de Mário.
Amigo, por que essa carinha? perguntou Isadora, tocando o ombro de Mário.
Mário mostrou o tambor. Ele está mudo, Isa. Acho que perdeu sua voz. Eu queria tanto que ele cantasse as músicas da nossa vila, as histórias que o Professor Amílcar conta sobre nossos antepassados.
Isadora, sempre cheia de ideias, sugeriu:
Vamos falar com o Professor Amílcar! Ele sabe tudo sobre as coisas antigas e os segredos da Vila Harmonia.
Juntos, eles foram até a casa do Professor Amílcar. O Professor era um senhor de barbas brancas e olhos cheios de sabedoria, que vivia rodeado de livros e mapas. Ele ouviu Mário com atenção, pegou o tambor e o examinou carinhosamente.
Ah, Mário, este não é um tambor comum. Ele é um tambor da memória, um tambor que guarda as cores do mundo. Ele só canta quando sente a harmonia de todas as cores, a beleza da diversidade, explicou o Professor, com um sorriso gentil.
Mário e Isadora se entreolharam, confusos. Cores do mundo? Como assim?
O Professor Amílcar continuou:
Cada pessoa, cada história, cada canto da natureza tem sua própria cor e seu próprio som. A verdadeira melodia surge quando todas essas cores se unem e se respeitam. Este tambor precisa sentir a riqueza de cada uma dessas partes. Vocês precisam encontrar as cores do mundo, Mário.
Guiados pelas palavras do Professor, Mário e Isadora decidiram embarcar em uma jornada especial pela Floresta Sussurrante. Eles não precisaram ir longe para encontrar as primeiras cores.
Primeiro, eles encontraram uma flor vermelha vibrante, tão intensa que parecia um pequeno fogo. Mário tocou a flor com o tambor, e um leve sussurro, quase inaudível, veio do instrumento. Era a cor da paixão e da força.
Em seguida, perto do Rio Cantante, viram uma pedra azul brilhante, polida pela água. Mário encostou o tambor na pedra, e o som do rio se misturou a um murmúrio suave vindo do tambor. Era a cor da calma e da sabedoria.
Eles caminharam mais e chegaram a um campo cheio de girassóis amarelos, que se viravam para o sol. Quando Mário tocou o tambor perto dos girassóis, um pequeno raio de sol pareceu tocar o instrumento, e uma risada alegre quase escapou dele. Era a cor da alegria e da luz.
A jornada continuou. Eles viram o verde da mata fechada, o laranja do pôr do sol espiando entre as árvores, o violeta das orquídeas raras e até o marrom da terra fértil. A cada nova cor que o tambor sentia, um novo som, um novo ton, uma nova vibração sutil se juntava ao seu silêncio, como se ele estivesse despertando devagar.
Ao anoitecer, exaustos, mas felizes, Mário e Isadora retornaram à Vila Harmonia. O tambor ainda não cantava alto, mas Mário podia sentir uma leve pulsação em suas mãos. Eles contaram tudo ao Professor Amílcar.
Vocês encontraram as cores, disse o Professor. Mas falta uma cor essencial, Mário. A mais importante de todas.
Mário pensou. O que faltava?
O Professor tocou levemente a pele de Mário.
Falta a sua própria cor, Mário. A cor da sua história, da sua ancestralidade. A cor que faz você ser quem você é, única e especial. Este tambor espera que você o abrace com orgulho.
Mário entendeu. Ele segurou o tambor perto do coração, fechou os olhos e pensou em todas as histórias que sua avó contava, nas músicas que ele amava, na força de seu povo, na riqueza de sua cultura e na beleza de sua pele. Ele sentiu um orgulho profundo.
Então, com toda a sua força, mas com carinho, Mário bateu no tambor. E desta vez, um som poderoso e vibrante preencheu o ar. Não era apenas um som, era uma melodia rica e complexa, com a energia do vermelho, a calma do azul, a alegria do amarelo, a esperança do verde e o calor do marrom. Era a música de todas as cores do mundo, celebrando a cor de Mário e a consciência de sua própria identidade.
A melodia ecoou pela Vila Harmonia, enchendo todos de alegria. Mário, Isadora e o Professor Amílcar sorriram. O tambor da memória finalmente cantava, não apenas as histórias de um povo, mas a canção universal da diversidade, da união e do respeito, lembrando a todos que cada cor, cada história e cada pessoa é um tesouro precioso.