Na pequena cidade de Girassol, onde o sol brilhava forte e as ruas eram tranquilas, existia um pomar que pertencia à Dona Jacira. Antigamente, ele transbordava de frutas suculentas, mas com o passar do tempo e as pernas já cansadas da senhora, o pomar foi ficando um pouco esquecido. As árvores, embora ainda vivas, pareciam suspirar por mais atenção.
Léo, um menino de olhos curiosos e um coração grande, passava todos os dias em frente ao pomar a caminho da escola. Ele via Dona Jacira sentada na varanda, e o pomar, com suas folhas um pouco empoeiradas. Um dia, enquanto Léo observava as mangas quase maduras no alto de uma árvore, uma voz grave e melodiosa soou acima dele:
– Psst! Psst, menino!
Léo olhou para cima e viu Seu Bento, a arara-azul de penas brilhantes, empoleirado no galho mais alto.
– Olá, Seu Bento! – disse Léo, acostumado com as conversas do pássaro.
– Léo, meu jovem, o pomar da Dona Jacira está com saudade de ser cuidado. As frutas estão maduras, mas o caminho até elas está coberto de folhas e pequenos matos. E a Dona Jacira não consegue fazer tudo sozinha, sabe? – disse Seu Bento, balançando a cabeça.
Léo pensou por um instante. Ele amava frutas e sabia que Dona Jacira era muito querida por todos. Teve uma ideia.
No dia seguinte, depois da escola, Léo foi até a casa de Dona Jacira.
– Dona Jacira, a senhora precisa de ajuda com o pomar? Eu posso ajudar a limpar e a colher as frutas! – ofereceu Léo, com um sorriso.
Dona Jacira arregalou os olhos.
– Ora, meu querido Léo, que gentileza a sua! Mas é muito trabalho para um menino só.
– Não tem problema! Eu sou forte! E o Seu Bento me disse que as frutas estão no ponto! – Léo riu, e Dona Jacira também.
Então, os dois começaram a trabalhar. Léo varria as folhas secas, tirava os galhos caídos e abria caminho entre as árvores. Dona Jacira, sentada em um banquinho, dava instruções e contava histórias do pomar. Seu Bento voava de galho em galho, cantando e incentivando.
Em poucos dias, o pomar estava transformado. As frutas brilhavam sob o sol, as folhas estavam limpas e a terra cheirava a vida. Léo, com a ajuda de uma pequena escada, começou a colher as frutas mais maduras: laranjas doces, mangas suculentas e goiabas perfumadas.
Quando as cestas estavam cheias, Dona Jacira olhou para o pomar renovado e seus olhos marejaram.
– Léo, meu filho, como posso te agradecer? Este pomar está mais lindo do que nunca!
– Não precisa agradecer, Dona Jacira. O pomar é lindo! – respondeu Léo.
Foi então que Seu Bento pousou no ombro de Léo.
– Léo e Dona Jacira, agora que o pomar está cheio de vida e de frutas, o que farão com tanta fartura? – perguntou a arara com um olhar significativo.
Dona Jacira e Léo se entreolharam. O pomar havia produzido muito mais frutas do que Dona Jacira poderia comer ou guardar.
– Dona Jacira – disse Léo, seus olhos brilhando –, e se nós levássemos essas frutas para as outras pessoas da cidade? Tem tanta gente que adoraria uma manga fresquinha ou uma laranja doce!
Dona Jacira sorriu amplamente. Era a ideia mais linda que ela tinha ouvido.
– É isso mesmo, Léo! Vamos compartilhar a doçura do nosso pomar com todos!
No dia seguinte, com a ajuda de alguns vizinhos que viram o pomar florescer novamente, Dona Jacira e Léo organizaram um Dia da Caridade no Pomar Dourado. Eles montaram uma pequena barraca na frente da casa de Dona Jacira e distribuíram as frutas para todos que passavam. Crianças e adultos vinham com sorrisos, agradecendo a generosidade. As frutas não eram vendidas, eram doadas com muito carinho.
Aquele dia se tornou uma festa. As pessoas conversavam, riam e saboreavam as frutas frescas. Léo sentiu uma alegria no peito que nunca havia sentido antes, uma alegria que vinha de dar e não de receber. Dona Jacira, com seu sorriso largo, percebeu que a verdadeira riqueza não estava na quantidade de frutas, mas na felicidade de compartilhar.
Seu Bento, do alto da mangueira, observava tudo, orgulhoso. Ele sabia que o segredo do Pomar Dourado não eram as frutas que ele produzia, mas o coração generoso de Dona Jacira e Léo que as faziam chegar a quem precisava, espalhando doçura e caridade por toda a cidade de Girassol.
Esta história mostra que a caridade é um gesto simples que pode trazer muita alegria e unir as pessoas.