Na clareira ensolarada às margens do Rio Doce, onde as águas cintilavam sob o sol e as árvores frondosas ofereciam sombra fresca, morava um tamanduá-bandeira muito tímido chamado Léo. Léo era magricela e tinha um coração enorme, apaixonado por observar as minúsculas formigas em suas jornadas diárias. Ele adorava o momento de ir ao riacho para beber água, mas havia algo que o incomodava: Pedrinho, um tatu-bola grandalhão e um pouco ranzinza.
Pedrinho tinha o hábito de ser o primeiro a chegar ao riacho e, se alguém tentasse se aproximar do seu lugar preferido no grande rochedo liso, ele resmungava e dava um empurrãozinho. Léo, com sua timidez, sempre esperava, encolhido, até que Pedrinho se afastasse. Isso o deixava com sede e um nó na garganta.
Perto dali, uma capivara curiosa e cheia de energia observava tudo. Era Nina, que adorava inventar brincadeiras novas e sempre defendia os amigos. Ela notou a tristeza nos olhos de Léo e a forma como Pedrinho agia. Nina sabia que não adiantava brigar ou revidar com a mesma grosseria. Ela precisava de uma ideia diferente.
Um dia, enquanto Pedrinho bebia água ruidosamente, Nina se aproximou com um sorriso.
Olá, Pedrinho! Que água gostosa, não é? disse ela.
Pedrinho resmungou algo e continuou a beber.
Nina continuou: Sabe, eu estava pensando em uma brincadeira nova para todos nós, que tal a brincadeira da fila amiga?
Pedrinho a olhou, curioso.
É assim, continuou Nina. Todos fazemos uma fila para pegar água. Quem está na frente, se serve e depois ajuda o próximo a encontrar o melhor lugar, para que todos fiquem confortáveis. Assim, ninguém precisa esperar tanto e todos podem aproveitar. E o melhor, podemos até conversar e rir enquanto esperamos!
Pedrinho pensou por um instante. Ele nunca tinha considerado que poderia ser divertido compartilhar. Ele estava acostumado a apenas pensar em si mesmo. Léo, que observava de longe, se aproximou devagar, seus olhos brilhando com um pingo de esperança.
Nina sorriu para Léo e disse: Venha, Léo! Você pode ser o segundo da fila hoje.
Léo, surpreso, acenou com a cabeça. Quando foi a vez de Pedrinho, em vez de se afastar, ele olhou para Léo e, com um pequeno sorriso, apontou para um lugar confortável ao lado do rochedo. Ei, Léo, aqui está bom para você! A água é fresquinha!
Léo arregalou os olhos. Era a primeira vez que Pedrinho falava com ele de forma gentil. A partir daquele dia, a clareira do Rio Doce mudou. A brincadeira da fila amiga se tornou um sucesso. Pedrinho percebeu que ser gentil e cooperar era muito mais recompensador do que empurrar e resmungar. Ele até começou a inventar novas formas de ajudar, como segurar um galho para Léo se apoiar ou mostrar a Nina onde havia frutas saborosas.
Léo, por sua vez, perdeu um pouco da timidez. Ele percebeu que tinha amigos que o defendiam e que a união era a maior força de todas. E assim, na clareira ensolarada, a amizade floresceu, mostrando que a gentileza e o respeito podem transformar até o coração mais ranzinza em um coração amigo.
