A Cidade das Copas era um lugar especial e maravilhoso, não por feitiços, mas pela pura beleza da natureza e a inventividade de seus moradores. Entre as folhas gigantes e os cipós balançantes, vivia Joca, um tamanduá-bandeira com um pincel no coração. Joca amava as cores vibrantes do pôr do sol que pintavam o céu sobre as árvores, os azuis profundos dos rios e os verdes infinitos da floresta. Com seus longos dedos ágeis, ele transformava telas em janelas para o mundo, mas a sua arte era apenas para seus olhos. Joca era muito tímido.
Todos os dias, no caminho para buscar as frutas mais doces na feira suspensa, Joca passava perto de Tarcísio, uma queixada grande e barulhenta. Tarcísio gostava de fazer brincadeiras que, para ele, eram inofensivas, mas para Joca, pareciam coices na alma.
— Lá vai o Joca, o tamanduá fantasma! Ninguém nunca ouve uma palavra dele! — trovoava Tarcísio, rindo alto com alguns de seus amigos.
Outras vezes, Tarcísio esbarrava de propósito em Joca, fazendo-o derrubar sua cesta de frutas ou desarrumar seus pincéis. Joca nunca revidava. Apenas abaixava a cabeça, recolhia suas coisas e se afastava, com o coração apertado. Aos poucos, as cores do mundo de Joca começaram a desbotar. Ele parou de pintar os pores do sol e os rios, e suas telas ficaram brancas, esperando por uma inspiração que parecia ter fugido.
Mas a Cidade das Copas tinha olhos atentos. Nina, a macaca-prego mais curiosa e inventiva, percebeu a tristeza nos olhos de Joca e a maneira como ele se encolhia ao ver Tarcísio. Nina era conhecida por suas invenções malucas e por sua inteligência afiada. Ela sabia que a gentileza era a mais poderosa das ferramentas.
Um dia, Nina teve uma ideia brilhante. Ela se aproximou de Joca, que estava sentado em um galho, olhando para o nada.
— Joca, as cores da floresta estão sentindo sua falta nas suas telas, sabia? — disse Nina, com sua voz suave.
Joca apenas deu de ombros. — Eu não tenho vontade, Nina. E as minhas pinturas… elas não são boas.
Nina balançou a cabeça. — Suas pinturas são lindas, Joca! Você captura a alma da floresta. E eu tenho uma ideia! Vamos criar o Festival das Cores da Cidade das Copas! Todos trarão suas obras para mostrar a beleza que veem no mundo. E você será a nossa inspiração!
Joca ficou apavorado com a ideia de mostrar suas pinturas, mas a persistência gentil de Nina o convenceu a tentar. Ele começou a pintar novamente, devagar no início, depois com a paixão que parecia ter perdido. Ele pintou o rio com seus peixes coloridos, o voo do beija-flor e a luz da lua espreitando entre as folhas.
No dia do Festival das Cores, a Cidade das Copas estava em festa. Telas e esculturas de todas as formas e tamanhos decoravam os caminhos de cipó. O grande painel de Joca estava no centro, coberto por um grande lençol de folhas. A expectativa era grande.
Quando Nina revelou a pintura de Joca, um silêncio se espalhou, seguido por suspiros de admiração. A tela era um espetáculo de cores e vida, mostrando a Cidade das Copas vista de cima, com detalhes tão ricos que parecia que o vento estava a soprar as folhas e os rios a correr.
Tarcísio, que estava por perto, tentou, por hábito, fazer uma piada. — Mas o que é isso? Um mapa rabiscado?
Mas antes que ele pudesse rir, Nina se adiantou. — Tarcísio, você vê apenas rabiscos, mas Joca vê a beleza do nosso lar. Ele usa suas cores para nos mostrar o quanto somos especiais. Suas palavras, Tarcísio, têm o poder de colorir ou desbotar o dia de alguém. Joca, com seus pincéis, escolhe colorir.
Outros animais concordaram, aplaudindo Joca e sua arte. Tarcísio olhou para a pintura novamente, depois para Joca, que agora sorria timidamente, mas com um brilho novo nos olhos. Pela primeira vez, Tarcísio viu a verdadeira beleza na arte e a tristeza que suas ações causavam. Ele sentiu um nó na garganta.
— Joca, me desculpe. Eu não percebi o quanto minhas brincadeiras te machucavam. Sua pintura é… é a mais linda que já vi.
Joca, sentindo a sinceridade nas palavras de Tarcísio, aceitou o pedido de desculpas com um aceno de cabeça. A partir daquele dia, Tarcísio aprendeu o valor do respeito e da gentileza, e Joca descobriu a força de sua própria voz e o poder de sua arte. A Cidade das Copas nunca mais foi a mesma, pois as cores de Joca e a coragem de Nina ensinaram a todos que a amizade e o respeito pintam o mundo com as mais belas tonalidades.
