No litoral de Estrelamar, erguia-se um antigo observatório estelar, um lugar que o tempo quase esqueceu. Mas não Betina. Com seus óculos redondos e uma mente cheia de perguntas, ela passava as tardes ali, consertando peças enferrujadas e sonhando com galáxias distantes. Ela não tinha muitos amigos na escola, e alguns colegas, liderados por Caio, um garoto com um jeito um tanto barulhento, costumavam fazer piadas sobre seu hobby incomum.
Um dia, enquanto tentava dar vida a um painel de controle empoeirado, Betina tropeçou em algo grande e coberto por um pano. Era um robô antigo, parecendo um ajudante de laboratório dos velhos tempos, com um corpo azul-metálico. Betina trabalhou por semanas, limpando, soldando e reprogramando, até que, com um último ajuste, os olhos do robô se acenderam com uma luz amarela suave. Ele não falava, mas suas luzes e movimentos expressavam uma gentileza pura. Betina o chamou de Otto.
Otto se tornou seu fiel companheiro. Ele ajudava a carregar livros pesados, alcançava ferramentas nas prateleiras mais altas e, de um jeito sutil, parecia entender o que Betina sentia. Quando Betina estava triste por causa das piadas de Caio, Otto pisava lentamente, emitindo pequenos zumbidos tranquilizadores.
Certa tarde, enquanto Betina mostrava a Otto como um telescópio projetava a imagem da Lua na parede, Caio e seus amigos apareceram na entrada do observatório.
— Olha só, a Betina e seu amigo de sucata! — Caio riu, e os outros o imitaram. — Aposto que ele é tão sem graça quanto ela.
O coração de Betina apertou, como sempre. Ela sentiu vontade de correr e se esconder. Mas, antes que pudesse se mover, Otto se posicionou suavemente à frente dela. Ele não fez barulho, apenas ficou ali, um escudo silencioso de metal. Então, com um movimento delicado, Otto ativou o telescópio e projetou a imagem ampliada da Lua cheia bem no rosto de Caio.
Caio parou de rir. Seus olhos se arregalaram. Ele e seus amigos nunca tinham visto a Lua daquele jeito, com todas as suas crateras e mares escuros, tão de perto e tão real. O silêncio tomou conta do observatório.
Betina, sentindo uma coragem que não sabia que tinha, deu um passo à frente, ao lado de Otto.
— Não é sem graça, Caio. É o universo, e ele é incrível. E Otto é meu amigo. As suas piadas me machucam, sabia? Eu gosto de vir aqui e sonhar com as estrelas. O que você gosta de fazer?
Caio olhou para a imagem da Lua, depois para Otto, e finalmente para Betina. Ele parecia surpreso com a pergunta e com a sinceridade dela. Pela primeira vez, ele viu Betina não como a garota estranha, mas como alguém que tinha paixão e sentimentos.
— Eu… eu gosto de jogar bola — ele murmurou, quase sem voz.
— Que legal! — disse Betina, com um pequeno sorriso. — Talvez um dia você possa me ensinar. E, se quiser, posso te mostrar mais sobre a Lua.
Caio não respondeu imediatamente. Ele e seus amigos trocaram olhares. Aquele dia, eles não fizeram mais piadas. Nos dias seguintes, Caio continuou visitando o observatório, não para zombar, mas para espiar a Lua ou perguntar a Betina sobre as constelações. Otto, o robô gentil, sempre observava, suas luzes amigáveis piscando.
Betina descobriu que Caio não era ruim, apenas não entendia. E Caio aprendeu que o universo era maior do que ele imaginava, e que as pessoas também eram. A amizade deles, nascida entre estrelas e a gentileza de um robô, provou que o respeito e a compreensão podiam brilhar mais forte do que qualquer zombaria. E no observatório de Estrelamar, Betina, Otto e Caio continuaram a desvendar os segredos do céu, e também os segredos da amizade.