Em um vale escondido entre montanhas de arco-íris (que um dia foram), existia a cidade de Cromolândia. Ela já foi um lugar de cores vibrantes, onde cada casa parecia um pedaço do céu e as flores dançavam em tons de alegria. Mas, com o tempo, uma estranha névoa cinzenta começou a cobrir tudo, sugando a vivacidade da cidade e tornando tudo opaco. As pessoas, antes cheias de risos, agora caminhavam com passos lentos e olhares cabisbaixos.
Lia, uma menina de cabelos cacheados e olhos curiosos como duas jabuticabas brilhantes, sentia a tristeza de Cromolândia. Ela carregava sempre um pequeno caderninho e um lápis, desenhando as cores que ainda via em seus sonhos e memórias. Um dia, Lia olhou para uma parede antes azul-celeste, agora um cinza sem graça, e pensou: alguém precisa fazer alguma coisa.
Ela lembrou-se de Seu Benedito, um inventor morador da torre mais alta da cidade. Ele era conhecido por seus óculos que viviam caindo do nariz e por criar as mais incríveis máquinas de luz e cor. Lia subiu os longos degraus da torre, sentindo o eco de seus próprios passos.
Seu Benedito estava no meio de engrenagens e fios coloridos, suspirando. Ah, minha jovem, disse ele, levantando os óculos. Você também sente a falta das cores?
Sim, Seu Benedito. E eu acho que a gente pode trazê-las de volta!
O inventor sorriu. Eu tentei de tudo, Lia. Luzes, tintas especiais, até melodias que prometiam afastar o cinza. Mas nada funcionou.
Lia apontou para um brilho fraco que piscava perto de uma prateleira empoeirada. O que é aquilo?
Seu Benedito se virou e seus olhos, por trás dos óculos grossos, se arregalaram. É Faísca! Ele é uma criaturinha de energia colorida, que vive dos nossos sentimentos mais alegres. Quando a cidade perdeu as cores, ele se escondeu.
Faísca, que era do tamanho de uma bolinha de gude, começou a brilhar mais forte quando Lia se aproximou. Ele piscava em verde, azul e vermelho, como se estivesse tentando contar algo.
Seu Benedito, com sua mente inventiva, logo entendeu. Ele precisa de alegria e de novas cores para se fortalecer! E a névoa, ela se alimenta da tristeza e da falta de imaginação. A gente precisa de arte!
Juntos, eles tiveram uma ideia brilhante. Seu Benedito criou um pincel especial para Lia, que não usava tinta comum. Este pincel absorvia os pequenos lampejos de cor que Faísca irradiava e os transformava em tintas invisíveis, prontas para serem reveladas pela alegria e imaginação.
Lia, com o pincel na mão e Faísca em seu ombro, começou a pintar. Primeiro, ela pintou uma pequena margarida na praça principal. No começo, nada mudou. Mas Lia, com sua imaginação, via a margarida amarela em sua mente. Ela convidou as crianças a olharem e imaginarem também. Lentamente, um pingo de amarelo surgiu na flor, depois outro, até que a margarida se tornou tão dourada quanto o sol.
A notícia se espalhou. Lia e Seu Benedito, junto com Faísca, começaram a ensinar os moradores de Cromolândia a enxergar a arte em tudo. Em uma pedra lisa, em um galho retorcido, até nas nuvens que flutuavam no céu cinzento. Eles pediram para que cada um encontrasse uma cor que sentia falta e a desenhasse, cantasse ou esculpisse.
O trabalho em equipe foi incrível! Uma senhora pintou um girassol gigante na parede de sua casa, usando a cor do seu vestido preferido. Um padeiro fez biscoitos em formato de estrelas coloridas. Um músico tocou melodias tão vibrantes que as pessoas sentiam as cores em seus corações.
A névoa cinzenta, que antes parecia invencível, começou a recuar. Faísca brilhava mais forte do que nunca, saltitando de alegria. As risadas voltaram a ecoar pelas ruas, e a cidade de Cromolândia se tornou mais colorida do que jamais havia sido. Não apenas pelas tintas e pelos objetos, mas pela arte que cada morador encontrava dentro de si, pela coragem de criar e pela amizade que floresceu entre todos. Lia, Seu Benedito e Faísca mostraram que a arte é a cor da vida e que a imaginação é o pincel mais poderoso de todos.
