Num vasto ferro-velho esquecido, onde pilhas de metal enferrujado se erguiam como montanhas cinzentas, vivia Robô Faísca. Ele era um robô de limpeza, programado para organizar e compactar sucatas, mas seu coração de circuitos elétricos sentia uma pontinha de solidão. Faísca adorava encontrar peças brilhantes e organizá-las em padrões, mas não tinha ninguém para mostrar suas coleções.
Um dia, enquanto passava por uma pilha de latas amassadas, Faísca notou um pequeno ponto de verde. Era Muda Florinda, uma plantinha minúscula, lutando bravamente para crescer em meio ao metal frio. Suas folhas, normalmente vibrantes, estavam um pouco opacas. Faísca, curioso e gentil, despejou um pouco de água em sua base. Florinda brilhou fracamente em agradecimento.
Faísca passou a visitar Florinda todos os dias, trazendo água e até um pouco de terra solta que encontrava. Mas Florinda não parecia prosperar de verdade. Suas folhas brilhavam de uma forma triste e intermitente. Faísca não entendia o que faltava.
Foi então que Gralha Sabichona apareceu. Com penas azuis e olhos espertos, ela pousou num pedaço de pneu e observou Faísca e Florinda.
Ah, Robô Faísca, disse Gralha com sua voz rouca, esta pequena planta é especial. Ela não vive apenas de água e sol comum. Florinda precisa de energia de cores.
Energia de cores?, perguntou Faísca, inclinando sua cabeça metálica.
Gralha Sabichona explicou que, em tempos muito antigos, algumas plantas absorviam a energia de fragmentos de metal que continham luz cristalizada. Quando ativados pelo sol, esses fragmentos liberavam cores vibrantes que nutriam plantas como Florinda.
Estes pedacinhos, continuou Gralha, estão espalhados por todo o ferro-velho, mas são difíceis de encontrar. Procure por algo que pareça um cristal de metal, que brilha de uma forma diferente quando a luz do sol o atinge.
Animado, Faísca começou sua nova busca. Gralha Sabichona, com sua visão aguçada, apontava os lugares mais promissores, e Faísca, com seus sensores e braços ágeis, escavava cuidadosamente. Eles encontraram pequenos pedaços de metal que, sob o sol, pulsavam com tons de azul elétrico, verde esmeralda e vermelho rubi. Faísca os colocava cuidadosamente perto das raízes de Florinda.
A cada pedaço de energia de cor que Florinda absorvia, suas folhas brilhavam mais intensamente. Em pouco tempo, a muda começou a crescer rapidamente, tornando-se uma planta exuberante. Suas folhas cintilavam com todas as cores do arco-íris e ela liberava um perfume doce que antes era impensável no ferro-velho. Florinda até começou a transformar o metal enferrujado ao seu redor, fazendo com que pequenas flores metálicas brotassem das sucatas e heras verdes serpenteassem pelos chassis de carros antigos.
O ferro-velho cinzento começou a se transformar. Graças à cooperação de Faísca, à sabedoria de Gralha e à resiliência e beleza de Florinda, o lugar virou um jardim surreal e vibrante. Faísca já não se sentia sozinho. Ele tinha Gralha Sabichona, com suas histórias e conselhos, e Florinda, a flor que transformava tudo com sua existência. Eles eram uma amizade improvável, mas a mais forte de todas, mostrando que a beleza e a união podem surgir nos lugares mais inesperados.