Era uma vez, em um sótão antigo e cheio de segredos na casa da Vovó Elza, um menino chamado Leo. Leo tinha nove anos, olhos que brilhavam de curiosidade e um sorriso que aparecia toda vez que ele encontrava algo novo para explorar. Em uma tarde de chuva, enquanto a vovó preparava biscoitos, Leo subiu as escadas rangentes do sótão.
Entre caixas empoeiradas e móveis cobertos com lençóis brancos, ele avistou algo especial: um tabuleiro de xadrez de madeira escura, entalhado com desenhos delicados. As peças pareciam observar Leo com seus pequenos olhos pintados. Era diferente de qualquer outro xadrez que ele já tinha visto. Ele tocou o tabuleiro e sentiu uma leve vibração.
Naquela noite, enquanto todos dormiam e a casa estava em silêncio, Leo ouviu um sussurro suave vindo do sótão. Ele se levantou devagar, com o coração batendo rápido de emoção, e seguiu o som. Ao se aproximar do tabuleiro, uma luz tênue emanava dos quadrados.
De repente, duas peças se moveram. Uma figura alta e elegante, vestida de branco, deslizou para a beira do tabuleiro. Era a Rainha Aurora, com uma coroa minúscula e um olhar preocupado. Ao lado dela, saltitando com um ar um pouco atrapalhado, surgiu o Cavaleiro Bento, uma peça preta com um escudo reluzente.
— Olá, Leo, sussurrou a Rainha Aurora, sua voz era como o som de sinos. — Precisamos da sua ajuda. O Rei sumiu.
Leo piscou, surpreso. As peças estavam falando! E o Rei tinha sumido?
— O Rei sumiu? Perguntou Leo, baixinho.
— Sim, confirmou o Cavaleiro Bento, com uma voz um pouco rouca. — Ele gosta de se esconder, mas desta vez, não o encontramos em lugar nenhum. E sem o Rei, o nosso reino de xadrez está incompleto!
O tabuleiro de xadrez começou a brilhar mais intensamente, crescendo em tamanho até se tornar um campo vasto e quadriculado, estendendo-se por todo o sótão. Leo, Aurora e Bento pareciam pequenos navegadores em um mar de quadrados pretos e brancos.
— Onde começamos a procurar? Perguntou Leo, animado com a aventura.
— O Rei adora charadas, disse Aurora. — E pistas. Mas ele nunca foi tão longe.
Eles começaram a jornada. Leo, com sua mente aguçada, notou um pequeno rastro de pó prateado em um quadrado preto.
— Olhem! Disse ele. — Parece que ele passou por aqui.
Aurora e Bento seguiram o rastro. Eles pularam sobre os peões dorminhocos, desviaram de torres adormecidas e até conversaram com alguns bispos que pareciam estar meditando. O rastro de pó prateado os levou para o canto mais distante do tabuleiro, onde havia uma pequena montanha de livros velhos.
— Acho que ele está brincando de esconde-esconde, disse Bento, com um leve bufo. — Mas essa é uma brincadeira muito séria.
Leo, com um olhar atento, notou algo brilhando entre as páginas de um livro de capa dura. Era a coroa do Rei, quase escondida.
— Ele está aqui! Exclamou Leo.
Com a ajuda do Cavaleiro Bento, que usou sua força para afastar alguns livros, eles encontraram o Rei, um tanto envergonhado, aninhado entre as páginas. Ele tinha se escondido para ver se alguém o sentiria falta.
— Oh, meus caros, disse o Rei, sua voz ecoando um pouco. — Eu só queria uma pequena aventura sozinho. Mas percebi que é muito mais divertido ter vocês por perto.
Rainha Aurora sorriu. — Sempre é, majestade. E Leo nos ajudou muito.
O Rei, grato, prometeu não se esconder tão bem da próxima vez. E Leo, com o coração cheio de alegria por ter ajudado seus novos amigos do tabuleiro, viu o mundo quadriculado diminuir gradualmente, voltando ao seu tamanho normal no sótão.
Ao amanhecer, Leo estava de volta à sua cama, pensando na aventura da noite. Ele sorriu, sabendo que no tabuleiro de xadrez da Vovó Elza, a amizade e a estratégia eram as jogadas mais importantes. E que cada peça, grande ou pequena, tinha seu valor.
