O ar da manhã em Vila Brilhante tinha um cheirinho diferente. Não era o perfume das flores de jasmim, nem o aroma do pão fresquinho que saía da padaria. Era o cheiro da volta às aulas, e Léo, um menino com cachos rebeldes e um sorriso meio desconfiado, sentia um friozinho na barriga. Ao seu lado, sobre a mesa do café, estava Fael, seu lápis favorito. Fael não era um lápis comum; ele tinha uma pequena rachadura que parecia um olho e uma ponta sempre afiada que parecia estar franzindo a testa.
Ah, Léo, lá vamos nós de novo. Mais cálculos, mais linhas retas e, o pior, mais ditados! resmungou Fael, com uma voz fininha que só Léo conseguia ouvir. Léo riu. Ele também não estava muito animado. O verão tinha sido cheio de construções de fortes no quintal e explorações de trilhas no parque, e a ideia de se sentar em uma carteira parecia… bem, um pouco sem graça.
Mas antes de ir para a nova Escola Estrela Guia, Léo e Fael tinham uma parada obrigatória: a Biblioteca dos Contos Antigos, onde Dona Cotovia, a bibliotecária, reinava. Dona Cotovia era uma senhora com óculos redondos na ponta do nariz e um vestido que parecia feito de retalhos de histórias. Ela cheirava a papel envelhecido e sabedoria. Léo sempre encontrava nela um bom conselho ou uma aventura em forma de livro.
Olá, meus exploradores de mundos! Ansiosos para desvendar os mistérios do novo ano? perguntou Dona Cotovia, seus olhos brilhando por trás das lentes. Léo deu de ombros. Fael, por sua vez, balançou sua ponta como quem nega. Dona Cotovia apenas sorriu e tirou de uma estante empoeirada um livro sem título, com capa de couro e páginas amareladas. Vejam, este livro, encontrado no sótão da Escola Estrela Guia, esconde um segredo. Quem o desvendar, descobrirá que a maior aventura está sempre onde menos se espera.
Ao abrir o livro, Léo e Fael encontraram não uma história, mas um Mapa dos Saberes. Não era um mapa de ruas, mas de curiosidades, com símbolos estranhos e desenhos de objetos. O primeiro ponto do mapa era uma pequena estrela dourada com a frase Onde os sons se encontram. Léo e Fael se despediram de Dona Cotovia, seus corações já um pouco mais leves. Eles foram para a Escola Estrela Guia, um prédio com paredes coloridas e janelões que pareciam olhos curiosos.
Seguindo o mapa, eles chegaram a uma sala onde instrumentos musicais de todos os tipos estavam pendurados. De repente, uma flauta solitária começou a emitir um som suave. Léo tocou-a e uma melodia agradável preencheu o ambiente. Fael, surpreso, deixou escapar: Ah, Léo, a música! Quase esqueci como é bom criar sons! O segundo ponto do mapa apareceu no livro: um desenho de um caracol. Onde as raízes crescem.
Eles seguiram para o jardim da escola. Lá, viram plantas com formatos e cores nunca antes imaginadas. Léo observou um pé de tomateiro que parecia sussurrar. Ele tocou as folhas e, num piscar de olhos, uma linda borboleta de asas azuis pousou em seu dedo. É incrível como a natureza se expressa!, exclamou Fael, desenhando rapidamente a borboleta no livro. O mapa agora mostrava um globo terrestre. Onde o mundo se revela.
Na sala de geografia, enormes globos flutuavam no ar. Léo girou um deles e uma voz amigável começou a narrar sobre as montanhas mais altas e os rios mais longos. Fael estava maravilhado. Aprendi mais em cinco minutos aqui do que em um dia de aula chato!, admitiu o lápis. O mapa brilhou, e a última frase apareceu: O tesouro está em todo lugar.
Léo e Fael entenderam. O tesouro não era ouro ou joias, mas a alegria de aprender, a surpresa das descobertas e a emoção de cada nova informação. Quando o primeiro dia de aula chegou, Léo não sentiu mais o frio na barriga. Ele sabia que a Escola Estrela Guia não era apenas um lugar de deveres e regras, mas um mundo inteiro de aventuras esperando para ser explorado. Fael, com a ponta erguida, estava pronto para registrar cada nova descoberta. E assim, a volta às aulas se tornou a mais emocionante das jornadas.
