O sol de final de verão pintava de dourado as folhas da pequena serra, anunciando a chegada de algo muito especial: a volta às aulas. Lia, com seus oito anos de pura curiosidade e suas tranças que balançavam a cada passo, mal podia esperar. Seu amigo Tico, um bem-te-vi de peito amarelo e penas vibrantes, voava em círculos sobre sua cabeça, chilreando animado.
Este ano, a Escola Municipal Flor do Ipê parecia ainda mais misteriosa. As salas estavam fechadas, os corredores silenciosos, mas havia uma energia diferente no ar. Lia e Tico decidiram fazer uma última exploração antes do grande dia. Eles caminharam pelos fundos da escola, onde uma cerca antiga e esquecida guardava um segredo.
— Tico, você está vendo o que eu estou vendo? — sussurrou Lia, apontando para um portãozinho escondido sob galhos emaranhados.
Tico pousou no ombro dela e piou com ainda mais entusiasmo. Juntos, eles empurraram o portão rangente e se depararam com um lugar incrível: um jardim abandonado, com plantas crescendo selvagens e algumas flores tímidas lutando para aparecer. Havia um banquinho de madeira coberto de musgo e uma pequena fonte seca. Era um lugar esquecido, mas cheio de potencial.
De repente, uma voz calma e familiar os chamou:
— Ora, ora, o que temos aqui? Pequenos exploradores à solta!
Era Seu Bento, o zelador da escola, que vinha regando as poucas plantas da entrada. Ele usava seus óculos na ponta do nariz e um chapéu de palha que parecia ter mil histórias.
— Seu Bento! O que é este lugar? — perguntou Lia, com os olhos arregalados.
O zelador sorriu. — Ah, este é o antigo jardim da escola. Há muito tempo, era o orgulho de todos, mas com o passar dos anos, acabou esquecido. Eu sempre quis arrumá-lo, mas uma pessoa só não dá conta.
Uma ideia brilhante acendeu na mente de Lia. — Podemos ajudar, Seu Bento! Tico e eu podemos transformar este lugar em um presente para todos na volta às aulas!
Seu Bento pensou por um instante, coçando a barba. — Uma ótima ideia, pequena Lia. Mas será preciso muito trabalho, paciência e, acima de tudo, trabalho em equipe.
Nos dias que se seguiram, Lia, Tico e Seu Bento formaram uma equipe imbatível. Lia cavava a terra, tirando as ervas daninhas com cuidado. Tico voava de um lado para o outro, bicando sementes caídas e encontrando ferramentas esquecidas. Seu Bento, com sua sabedoria, ensinava Lia a identificar as plantas e como cuidar de cada uma. Ele contava histórias engraçadas de como o jardim era antes, cheias de borboletas e risadas de crianças.
Eles plantaram sementes coloridas, regaram as flores com carinho e limparam a fonte. O jardim começou a renascer, ganhando vida e cores vibrantes. Margaridas brancas, girassóis amarelos e pequenas lavandas perfumadas surgiam por todos os cantos. O banquinho foi limpo e pintado. A cada dia, Lia sentia mais alegria em ver o jardim florescer, sabendo que seu esforço e a ajuda de seus amigos faziam a diferença.
Finalmente, chegou o grande dia da volta às aulas. Os corredores da Escola Flor do Ipê se encheram novamente de risadas e vozes animadas. Lia estava um pouco nervosa, mas Tico piou em seu ombro, lembrando-a do segredo que guardavam.
Depois da primeira aula, Seu Bento reuniu todos no pátio. — Crianças, temos uma surpresa especial para vocês. Nossos amigos Lia e Tico, com a minha ajuda, prepararam algo com muito carinho para celebrar nossa volta.
Ele abriu o portãozinho que antes estava escondido. Os olhos das crianças se arregalaram ao ver o jardim transformado, agora cheio de vida e cores. Borboletas dançavam sobre as flores, o cheiro de terra molhada e lavanda flutuava no ar. A fonte, agora limpa, borbulhava suavemente.
Os alunos correram para o jardim, maravilhados. Lia sentiu seu coração vibrar de felicidade. Ela não apenas havia transformado um pedaço esquecido da escola, mas havia aprendido o valor da amizade, da colaboração e de cuidar do ambiente ao seu redor. Naquele ano, a volta às aulas na Escola Flor do Ipê não foi apenas o início de novas aprendizagens nos livros, mas também a celebração de um jardim que floresceu com a união de todos.
