Afonso era um menino sonhador, com olhos curiosos que pareciam ver mundos inteiros em cada canto da sua pequena cidade. Ele amava desenhar e imaginar as aventuras que existiam para além da sua janela. Um dia, explorando uma parte antiga do parque municipal, que quase ninguém visitava, Afonso encontrou algo extraordinário.

Lá, escondido entre árvores frondosas e cipós, estava um trem. Mas não era um trem qualquer. Suas cores eram vibrantes – azuis, verdes, amarelos e roxos dançavam em suas laterais, como se tivessem sido pintados por um arco-íris. O trem parecia sorrir. Perto dele, uma senhora de cabelos brancos e um sorriso acolhedor, Dona Cotinha, arrumava algumas engrenagens. Ao seu lado, Tilico, uma capivara de olhar esperto, mordiscava uma folha verde com satisfação.

“Ora, ora, um novo aventureiro!”, disse Dona Cotinha, seus olhos brilhando de alegria. “Este é o Trem do Horizonte Colorido. Ele nos leva a lugares que só existem se a gente tiver coragem de procurar. Quer vir conosco?”

Afonso não pensou duas vezes. Subiu no trem, sentindo o cheiro de aventura no ar. Tilico pulou para o banco ao lado dele, oferecendo-lhe um pedacinho de folha.

O trem começou a se mover suavemente, sem fumaça ou barulho excessivo, como se deslizasse sobre nuvens. Logo, a paisagem mudou. Eles estavam numa Floresta Cantante, onde árvores com folhas gigantes, de todos os tons de verde e bronze, balançavam em harmonia. O vento passava por elas, criando uma melodia suave, um coro de sussurros e assobios que parecia contar histórias antigas. Afonso fechou os olhos, sentindo a música da natureza em seu coração.

“Para ouvir o mundo, Afonso, precisamos prestar atenção nos pequenos detalhes”, explicou Dona Cotinha.

A viagem seguiu, e o trem os levou a outro lugar incrível: o Vale dos Cristais. Era um vale vasto, onde formações rochosas brilhantes se erguiam como esculturas, refletindo a luz do sol em milhares de cores. O chão era coberto por pequenos cristais que estalavam gentilmente sob as rodas do trem. Um riacho de águas tão límpidas que pareciam vidro corria pelo meio do vale.

No entanto, para seguir adiante, eles precisavam cruzar o riacho, mas a pequena ponte de cipós que o atravessava estava desfeita. Afonso sentiu um aperto, mas Dona Cotinha sorriu. “Um desafio para a nossa equipe!”

Tilico, sempre atento, farejou entre as pedras e encontrou cipós resistentes e galhos fortes. Afonso e Dona Cotinha, trabalhando juntos, amarraram os cipós e os galhos, reconstruindo a pequena ponte com cuidado. Cada nó era um pedaço da amizade que crescia entre eles.

Com a ponte consertada, o trem seguiu viagem por mais alguns vales e montanhas, sempre revelando paisagens que tiravam o fôlego de Afonso. Ele desenhava tudo em seu pequeno caderno, tentando capturar as cores e as sensações.

Quando o sol começou a se pôr, pintando o céu de laranja e roxo, o Trem do Horizonte Colorido os trouxe de volta ao parque, exatamente onde o encontraram. Afonso desceu, sentindo-se diferente. Ele não havia viajado para um lugar distante no mapa, mas para muitos lugares dentro de si mesmo.

“A melhor viagem, Afonso”, disse Dona Cotinha, piscando, “é aquela que nos ensina a ver o extraordinário no comum e a compartilhar as descobertas com quem amamos.”

Afonso abraçou Dona Cotinha e acariciou a cabeça de Tilico. Ele sabia que aquelas memórias e os novos amigos seriam tesouros para sempre. E que a próxima viagem estava apenas esperando por sua curiosidade.