Em um canto esquecido do Brasil, aninhado entre as raízes de árvores gigantes e ruínas de uma antiga e misteriosa civilização tecnológica, existia a Cidade-Máquina. Não era uma cidade de pessoas, mas um labirinto de engrenagens enferrujadas, tubos retorcidos e painéis cintilantes que dormiam sob um véu de musgo e folhagens. Lá vivia Remy, um pequeno rato com um coração grande e uma mente ainda maior. Remy não sonhava em comer queijo ou correr em rodinhas, ele sonhava em voar. Seus dias eram passados vasculhando os escombros da Cidade-Máquina, coletando pedaços de metal, fios coloridos e molas saltitantes, tudo para a sua grande paixão: inventar. Ele estava construindo uma engenhoca voadora! Um aparelho que o levaria acima das copas das árvores, para ver o mundo de uma perspectiva que nenhum rato jamais vira. O melhor amigo de Remy era Beto, um besouro-rola-bosta de bom coração, grande e forte, que sempre ajudava a carregar as peças mais pesadas. Beto nem sempre entendia os complexos desenhos de Remy, mas confiava plenamente na genialidade de seu amigo. Um dia, enquanto exploravam uma nova parte da Cidade-Máquina, um lugar onde tubos prateados se contorciam como serpentes gigantes, eles ouviram um lamento suave. Escondido sob uma pilha de painéis solares quebrados, estava Juba, um filhote de onça-pintada, pequeno e assustado. Juba havia se perdido da mãe e estava com medo de tudo. Apesar do instinto natural, Remy e Beto viram a gentileza nos olhos do filhote e decidiram ajudá-lo. Juba, por sua vez, sentiu a bondade em seus novos amigos. Remy estava quase terminando sua engenhoca voadora, mas faltava uma peça crucial: uma pequena válvula de propulsão que, segundo seus mapas antigos da Cidade-Máquina, só poderia ser encontrada no topo da Torre do Zênite. Era a estrutura mais alta e imponente de toda a cidade, seus andaimes antigos e cabos desfiados pareciam desafiar o céu. A subida seria perigosa, cheia de passagens estreitas e engrenagens que giravam misteriosamente. Mas Remy tinha um propósito e amigos ao seu lado. A jornada começou. Beto, com sua força, empurrava pedras soltas que bloqueavam o caminho e segurava cordas improvisadas para Remy. Juba, com sua visão aguçada e agilidade felina, desviava de armadilhas esquecidas e encontrava os caminhos mais seguros. Houve um momento em que eles se depararam com um fosso profundo, e a única passagem era uma ponte de metal enferrujado que parecia prestes a desabar. Remy, com sua inteligência, usou um pedaço de fio e uma polia para criar um tirolesa, enquanto Beto testava a segurança da estrutura e Juba observava atentamente cada movimento, guiando-os com seu olhar calmo. Depois de muitas horas, superando desafios que exigiram toda a sua coragem e trabalho em equipe, eles finalmente alcançaram o topo da Torre do Zênite. Lá, em meio a antenas quebradas eólicos, estava a válvula de propulsão que Remy tanto procurava. Com a peça em mãos, a equipe retornou ao laboratório improvisado de Remy. Com habilidade e precisão, o pequeno rato instalou a válvula. A engenhoca voadora, colorida e cheia de personalidade, estava pronta! No dia seguinte, sob o sol vibrante, Remy, Beto e Juba se prepararam para o primeiro voo. Remy ajustou seus óculos de aviador, Beto se agarrou firme a uma das asas, e Juba se aconchegou na pequena cabine. Com um barulho suave de engrenagens e um sopro de vento, a engenhoca decolou. Eles subiram, subiram, até que a Cidade-Máquina se estendeu abaixo deles como um vasto e intrincado tapete. Viram rios prateados de fios, montanhas de sucata que pareciam castelos e florestas que escondiam segredos ainda maiores. A alegria encheu seus corações. Eles haviam não só construído uma máquina voadora, mas também fortalecido uma amizade inquebrável. Remy descobriu que a verdadeira aventura não estava apenas em voar, mas em compartilhar o sonho com amigos leais. Beto e Juba aprenderam que a coragem e a inteligência podem vir em qualquer tamanho. E juntos, eles sabiam que havia um mundo inteiro de descobertas esperando por eles, um voo de cada vez.