Na vasta e verdejante Floresta da Contagem, onde rios serpenteavam como fitas prateadas e árvores gigantes beijavam o céu, morava um menino muito observador chamado Bento. Ele adorava explorar e tinha um dom especial para notar os detalhes mais ínfimos da natureza. Um dia, enquanto caminhava por sua trilha favorita, Bento percebeu algo estranho. As Bagas Cintilantes, frutas raras que nasciam em grupos exatos de dez, pareciam estar sumindo.

Bento contou mentalmente: antes, em cada arbusto havia sete grupos de dez bagas. Agora, em alguns havia apenas cinco, em outros, três grupos. Ele franziu a testa. Quantidades diferentes sumindo de lugares diferentes. Isso era um mistério!

Preocupado, Bento procurou sua amiga Jupira, uma capivara esperta e metódica que morava à beira do rio. Jupira era famosa por sua organização e por manter tudo em ordem.
– Jupira, você notou? As Bagas Cintilantes estão diminuindo, disse Bento, mostrando um arbusto quase vazio.
Jupira, que já estava fazendo seu próprio inventário de folhas e pedras coloridas, confirmou com um aceno de cabeça.
– Sim, Bento! Observei que a quantidade de bagas está menor do que o habitual. É preciso resolver isso, ou os esquilos e passarinhos ficarão sem sua guloseima favorita.

Juntos, decidiram pedir ajuda a Corisco, um tamanduá-bandeira um pouco desajeitado, mas com um faro que ninguém na floresta conseguia igualar. Corisco morava em uma caverna aconchegante cheia de folhas secas, onde vivia um pouco avoado, mas sempre disposto a ajudar.
– Cheiro de bagas… Cheiro de bagas sumindo…, murmurou Corisco, farejando o ar com seu longo focinho. Ele seguiu os rastros que levavam para o interior da floresta.

Os três amigos seguiram Corisco, que os guiou por entre arbustos densos e riachos borbulhantes. Pelo caminho, eles encontravam mais evidências. Pequenos montinhos de bagas eram deixados no chão, mas em quantidades variadas.
– Veja! Aqui tem um grupo de três bagas, apontou Bento.
– E ali, um pouco mais adiante, parece ter um grupo de cinco, completou Jupira, contando rapidamente.
Corisco farejava e grunhia, indicando que os rastros estavam cada vez mais frescos. Eles se perguntavam quem estaria coletando as bagas em quantidades tão peculiares. Não parecia ser para comer, pois algumas eram deixadas para trás.

De repente, Corisco parou diante de uma clareira escondida. Lá, brilhando sob os raios de sol, estava um ninho magnífico, feito de galhos finos e… Bagas Cintilantes! Muitas delas, organizadas de forma brilhante, mas sem um padrão exato, como se fossem apenas adicionadas onde cabiam. Pelo ninho, pequenos insetos brilhantes, chamados Luminares, agitavam suas asinhas, adicionando mais bagas ao que parecia ser uma nova casa.
Os Luminares, com suas cores iridescentes, estavam construindo um berçário cintilante para a chegada de seus novos filhotes! Eles não estavam tirando as bagas para comer, mas para decorar e fortalecer seu lar. Eles pegavam as bagas que encontravam em seu caminho, sem se preocupar em contar de dez em dez. Para eles, qualquer quantidade era útil.

Bento, Jupira e Corisco entenderam. Os Luminares precisavam de muitas bagas, mas não em quantidades exatas como os grupos originais. Eles estavam pegando o que podiam, e isso afetava o equilíbrio natural.
– Precisamos encontrar outra forma de ajudá-los, disse Bento. As Bagas Cintilantes são importantes para toda a floresta.
Jupira, com sua mente organizada, sugeriu:
– Há muitos arbustos de Bagas Douradas perto do Riacho Calmo. Elas não são tão raras e crescem em grande abundância. Podemos mostrar aos Luminares que elas também são bonitas e fortes para o ninho!

Os amigos trabalharam juntos. Bento e Jupira orientaram Corisco a farejar as Bagas Douradas. Em pouco tempo, eles estavam ajudando os Luminares a transportar as novas bagas para o ninho. Os pequenos insetos, vendo a ajuda e a beleza das Bagas Douradas, começaram a usá-las também, misturando-as com as Bagas Cintilantes.
O ninho ficou ainda mais colorido e forte! E, mais importante, as Bagas Cintilantes puderam voltar a crescer em suas quantidades habituais nos arbustos, garantindo comida para todos os habitantes da Floresta da Contagem.

Bento, Jupira e Corisco se sentiram orgulhosos. Eles aprenderam que entender as diferentes quantidades e as necessidades de cada um é fundamental para a harmonia. E que, com amizade e cooperação, até um mistério de bagas sumidas pode ensinar uma lição valiosa sobre o equilíbrio da natureza. Eles voltaram para suas casas sabendo que tinham feito a diferença, e a Floresta da Contagem continuava vibrante e cheia de vida, com todas as suas quantidades no lugar certo.