A primavera estava quase batendo à porta do Vale das Cores Escondidas, um lugar onde o sol nascia mais brilhante e o orvalho da manhã cintilava como joias. No topo da montanha mais alta, Dona Flora, uma botânica com seus cabelos brancos presos em um coque arrumado e um chapéu de palha sempre na cabeça, preparava seu jardim secreto. Não era um jardim qualquer. Era um refúgio para as flores mais raras e belas que desabrochavam apenas uma vez por ano, com a chegada do calor primaveril.
Sua paixão por cada pétala e cada folha era contagiante. Ela tinha dois grandes amigos que a ajudavam em todas as suas aventuras de jardinagem. Júnior era uma joaninha pequena, mas com uma mente gigante. Ele usava óculos minúsculos e sempre carregava um cinto de ferramentas ainda menores, cheio de engenhocas. Júnior era o inventor oficial do jardim, sempre criando soluções engenhosas para os desafios de Dona Flora. A outra amiga era Luzia, uma libélula com asas iridescentes que voavam tão rápido quanto seus pensamentos. Luzia era a mensageira do jardim, conhecia cada trilha e cada corrente de vento.
Naquela manhã, um murmúrio corria entre as folhas. O cheiro da primavera já se espalhava, mas o céu, que antes estava azul anil, começava a ganhar um tom cinzento preocupante. Dona Flora consultou seus instrumentos meteorológicos caseiros.
— Uma tempestade se aproxima! E parece ser forte! — disse ela, com uma ruga na testa. — As sementes das Flores-do-Sol-Noturno, que plantei ontem, ainda não criaram raízes profundas. Se a chuva vier com muita força, elas podem ser levadas!
Júnior, que estava polindo uma de suas mini-ferramentas, levantou a cabeça.
— Precisamos protegê-las, Dona Flora! Mas como? São muitas sementes e o tempo é curto!
Luzia, que havia acabado de chegar de um voo exploratório, pousou suavemente no ombro de Dona Flora.
— Conheço uma caverna secreta, bem protegida do vento e da chuva, do outro lado da montanha. É um lugar alto, onde a água não alcança. Mas é muito longe para levarmos todas as sementes a tempo.
Júnior teve uma ideia brilhante. Ele voou rapidamente até sua oficina, um pequeno esconderijo embaixo de uma folha de bananeira gigante. Depois de alguns zumbidos e estalos, ele retornou com uma engenhoca que parecia uma flor de dente-de-leão gigante com hélices minúsculas.
— Um drone de sementes voador! — exclamou Júnior, orgulhoso. — Ele pode carregar pequenas cápsulas com as sementes e as soltar com segurança na entrada da caverna.
Dona Flora sorriu, os olhos brilhando.
— Mas quem irá guiá-lo em meio à tempestade que se aproxima?
Luzia se ofereceu imediatamente.
— Eu posso! Minhas asas são fortes e conheço cada corrente de vento desta montanha. Posso voar na frente do drone e mostrar o caminho mais seguro!
Com a chuva começando a cair, os três amigos iniciaram a corrida contra o tempo. Dona Flora cuidadosamente colocou as sementes em pequenas cápsulas que Júnior havia preparado. Júnior as encaixou no drone voador. Luzia, com sua agilidade inigualável, decolou primeiro, suas asas cortando o ar úmido. O drone a seguiu, balançando um pouco com as primeiras rajadas de vento.
A viagem foi desafiadora. O vento uivava, tentando desviar o drone, e a chuva batia forte. Mas Luzia era uma guia destemida. Ela manobrava entre galhos e rochas, sempre à frente, indicando o caminho. Júnior, com os olhos fixos no pequeno aparelho, enviava ajustes de direção e potência. Dona Flora, lá embaixo, os observava com o coração apertado, mas cheio de esperança.
Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, Luzia avistou a entrada da caverna secreta. Era um recesso perfeito na rocha, alto e seco. Com um último esforço, ela guiou o drone para dentro. As cápsulas foram liberadas suavemente, caindo em um leito de terra fofa dentro da caverna.
A tempestade durou a noite toda. Na manhã seguinte, o céu estava limpo e um sol dourado banhava o vale. Dona Flora, Júnior e Luzia foram até a caverna. Para a surpresa e alegria de todos, as sementes já haviam começado a brotar! Pequenos caules verdes apontavam para a luz que entrava.
A primavera chegou gloriosa ao Vale das Cores Escondidas, e as Flores-do-Sol-Noturno desabrocharam não apenas no jardim de Dona Flora, mas também na entrada da caverna secreta, criando um espetáculo de cores nunca antes visto. Era um lembrete de que a amizade, a coragem e a inteligência podiam superar qualquer tempestade, trazendo beleza onde menos se esperava. E assim, o jardim secreto de Dona Flora e o inventor voador se tornaram a lenda mais bonita daquela primavera.