Era uma vez, na pitoresca vila de Porto Sereno, banhada pelo rio Estrela e abraçada pelo oceano, vivia um menino sonhador chamado Tomás. Seu maior desejo era ligar as duas margens do rio, pois do outro lado, na Floresta do Eco, cresciam os mais deliciosos frutos que só podiam ser colhidos raramente, quando a maré estava baixa e permitia uma passagem arriscada. Todas as tentativas de construir uma ponte permanente haviam falhado, levadas pelos imprevisíveis redemoinhos dançarinos do rio.
Tomás tinha um amigo inseparável, uma lontra chamada Corisco. Corisco não era uma lontra comum; ele tinha uma curiosidade imensa por engenhocas e adorava mexer com pequenas ferramentas que Tomás deixava por perto. Juntos, eles sonhavam com a ponte flutuante.
Tomás começou com entusiasmo. Primeiro, ele tentou com troncos amarrados, mas os redemoinhos os desmancharam rapidamente. Corisco, com sua agilidade, pegava os pedaços que se soltavam, trazendo-os para Tomás analisar. Não desista, Tomás, parecia dizer a lontra com seus olhos brilhantes.
Então, Tomás tentou com bambus gigantes, tecendo-os como uma grande esteira. Durou um pouco mais, mas uma tempestade repentina dobrou e quebrou a estrutura. A cada falha, alguns moradores de Porto Sereno balançavam a cabeça. Ah, Tomás, de novo?, diziam, em tom de desânimo. Mas Dona Aurora, uma senhora que passava a vida estudando o rio e suas correntes, sempre o encorajava, dizendo: Cada falha é um passo para frente, meu caro. Você está aprendendo a linguagem do rio.
Tomás e Corisco observavam o rio por horas. Eles notaram como os redemoinhos agiam, onde a força da água era maior, e onde a corrente era mais gentil. Inspirado pelas palavras de Dona Aurora e pela incansável coleta de materiais de Corisco, Tomás teve uma nova ideia: uma ponte de módulos independentes, feitos de um tipo de madeira leve e resistente que ele encontrou, interligados por cordas flexíveis e âncoras ajustáveis. Seria uma ponte que dançaria com o rio, em vez de lutar contra ele.
O trabalho foi árduo. Dias se transformaram em semanas. Tomás cortava, lixava, amarrava. Corisco mergulhava, fixava as âncoras no leito do rio e testava a estabilidade de cada módulo com um pequeno empurrão. Houve momentos em que Tomás se sentiu cansado, mas a imagem dos deliciosos frutos da Floresta do Eco e o olhar de apoio de Corisco o impulsionavam.
Finalmente, a última peça foi colocada. A ponte flutuante de Tomás e Corisco, uma obra de persistência e engenhosidade, estendia-se majestosamente sobre o rio Estrela. Os redemoinhos tentaram puxá-la e torcê-la, mas a ponte balançava e se adaptava, como se fizesse parte do próprio rio, mostrando sua resiliência.
Os moradores de Porto Sereno ficaram maravilhados. Com cautela, os primeiros atravessaram, sentindo a ponte se mover suavemente sob seus pés. Chegaram à Floresta do Eco, colheram os frutos e voltaram com sorrisos largos e cestas cheias.
Tomás e Corisco foram aclamados como heróis. Mas o maior prêmio para Tomás não foi a celebração, e sim a lição que aprendeu: com persistência e um pouco de criatividade, mesmo os desafios mais turbulentos podem ser superados. E assim, Porto Sereno e a Floresta do Eco foram conectados, tudo graças à teimosia gentil de um menino e sua amiga lontra.
