No coração de um vilarejo alegre, com ruas de paralelepípedos e casas coloridas, vivia Lila, uma menina de oito anos com o cabelo encaracolado e um brilho nos olhos que indicava uma sede insaciável por histórias. Sua maior companhia era Dionísio, um dicionário de bolso vermelho, pequeno, mas com uma voz surpreendentemente animada e uma personalidade muito curiosa. Dionísio não apenas guardava palavras, ele as amava e sonhava em catalogar todas as palavras do mundo, especialmente aquelas mais raras e com significados especiais.
Um dia, enquanto Lila e Dionísio passeavam pela feira do vilarejo, algo estranho aconteceu. As palavras pareciam… sumir. Uma barraca de frutas que antes anunciava “Deliciosas Maçãs Frescas” agora dizia apenas “Maçãs”. As cores das letras pareciam mais pálidas, quase cinzentas.
Dionísio, com sua voz miúda, exclamou: Lila, percebeu isso? As palavras estão perdendo a cor! Algo está acontecendo com a linguagem do nosso vilarejo.
Lila, com sua mente sempre pronta para um enigma, concordou. Elas seguiram a trilha das palavras enfraquecidas até a praça principal, onde encontraram Sandro, um papagaio muito esperto e com penas verdes e azuis vibrantes. Sandro era conhecido por repetir tudo o que ouvia, mas ultimamente ele estava mais silencioso, apenas murmurando sílabas soltas.
Lila se aproximou de Sandro. Papagaio Sandro, por que as palavras estão perdendo a cor? Você sabe o que está acontecendo?
Sandro piou e balançou a cabeça, como se não entendesse. Mas então, Dionísio, que era um especialista em sons e significados, percebeu algo. O papagaio não estava repetindo, estava absorvendo. Suas penas brilhavam cada vez mais forte a cada murmúrio.
Dionísio explicou a Lila: Sandro não está apenas repetindo. Ele está coletando os ecos das palavras! Eles estão indo para algum lugar especial que ele conhece.
Intrigados, Lila e Dionísio seguiram Sandro enquanto ele voava em direção a uma área de montanhas rochosas nos arredores do vilarejo. Lá, escondido entre grandes pedras, havia uma entrada para uma caverna, que Lila nunca tinha visto antes. Era o Vale dos Ecos.
Ao entrarem, foram recebidos por um espetáculo incrível. As paredes da caverna brilhavam com luzes coloridas, pulsando e se transformando em formas. Eram os ecos das palavras, vibrando e flutuando no ar. Sandro, sem querer, tinha se tornado o guardião desse lugar, e ao absorver os ecos, estava impedindo que as palavras completas chegassem às pessoas do vilarejo.
Lila, com calma, disse a Sandro: Sandro, as palavras são como as cores de um quadro. Cada uma é importante para a imagem ficar bonita. Se você guarda todas aqui, o quadro do nosso vilarejo fica sem cor.
Dionísio acrescentou, com sua voz sábia: As palavras precisam ser compartilhadas, Sandro. Elas ganham vida quando são ditas, quando contam histórias, quando expressam sentimentos.
Sandro olhou para eles, confuso no início, mas depois para os ecos flutuantes. Ele nunca pensou que estava causando um problema. Ele só achava os ecos muito bonitos e gostava de guardá-los. Lila e Dionísio mostraram a ele como cada eco, ao ser liberado, voltava ao vilarejo, restaurando a cor e o som das palavras.
Com a ajuda de Lila e Dionísio, Sandro começou a liberar os ecos, um por um. Ele aprendeu que não precisava guardá-los todos, mas podia apreciá-los enquanto eles viajavam para o vilarejo. Logo, as palavras voltaram a ter vida nas ruas, nas conversas e nas histórias contadas.
O vilarejo voltou a ser vibrante, e as pessoas redescobriram a alegria de se expressar com todas as suas palavras. Sandro, agora mais consciente, continuou seu trabalho no Vale dos Ecos, mas agora com a missão de garantir que cada palavra pudesse voar livremente. Lila, Dionísio e Sandro se tornaram os guardiões da linguagem, celebrando o poder de cada palavra e a beleza de compartilhá-las. Eles aprenderam que cada som, cada sílaba, cada palavra tem seu valor e sua importância, e que juntos, eles podem fazer o mundo mais colorido e cheio de sentido. A amizade deles mostrou que a comunicação é o maior tesouro de todos.
