No coração do interior, onde o sol nascia dourado sobre os campos verdes, ficava o Sítio Alegre. Era um lugar onde a vida pulsava em cada canto, e os sons eram a melodia que embalava o dia. Mariana, uma menina de oito anos com olhos curiosos e um sorriso fácil, adorava a fazenda. Ela conhecia cada vaquinha, cada galinha e cada segredo do seu lar.
Certa manhã, enquanto Mariana ajudava a Vovó Lúcia a colher amoras, ela notou algo estranho. O canto do galo Professor Sabichão, que normalmente era forte e pontual, parecia desafinado. Os mugidos das vacas, que costumavam ser um coro harmonioso, estavam dispersos. Até o balido de Corajoso, o bode teimoso, soava mais como um resmungo do que o seu habitual protesto.
— Vovó, os sons da fazenda estão esquisitos, não estão? — perguntou Mariana, franzindo a testa.
A Vovó Lúcia, com sua sabedoria tranquila, respondeu: — Talvez os bichinhos estejam com um pouco de saudade daquela harmonia de antes, minha querida.
Determinada a desvendar o mistério, Mariana foi procurar seus amigos. Primeiro, encontrou Corajoso, roendo uma maçã no pomar.
— Corajoso, você não sente que a fazenda está um pouco… silenciosa, mesmo com tanto barulho? — ela perguntou.
O bode olhou para ela, mastigando devagar. — Bah! É que parece que a brisa forte da semana passada levou um pouco da alma dos nossos sons. As folhas das árvores não sussurram como antes, o riacho não borbulha tão alegre. Tudo parece um pouco… frouxo.
Mariana pensou. Se a brisa havia levado a alma dos sons, talvez a solução estivesse em trazer a alma de volta. Eles decidiram procurar o Professor Sabichão, o galo inventor que sempre tinha uma ideia brilhante. Encontraram-no em seu pequeno ateliê no celeiro, cercado por engenhocas feitas de sementes, galhos e pedaços de madeira.
— Professor Sabichão, precisamos de sua ajuda! — exclamou Mariana, explicando sobre os sons desorganizados.
O Professor Sabichão, ajustando seus óculos de arame, ouviu atentamente. — Entendo! Os elementos naturais agem como instrumentos em uma grande orquestra. A brisa pode ter movido alguns elementos que amplificavam certos sons, ou talvez bloqueado outros. Precisamos reorganizar a orquestra da natureza!
Juntos, os três embarcaram em uma aventura pela fazenda. Mariana usou sua visão aguçada para encontrar galhos secos que, ao balançar, poderiam imitar o sussurro das folhas. Corajoso, com sua força, ajudou a mover algumas pedras maiores para perto do riacho, criando pequenos obstáculos que faziam a água borbulhar com mais melodia. Professor Sabichão construiu pequenos cata-ventos de bambu que, com a brisa, emitiam assobios suaves, preenchendo o ar com uma nova melodia.
Eles trabalharam o dia todo, com Corajoso bufando e empurrando, Mariana organizando e o Professor Sabichão ajustando suas invenções. Ao entardecer, o Sítio Alegre parecia um lugar diferente. O vento soprava nos cata-ventos, as águas do riacho cantavam em um ritmo animado, e os galhos secos, pendurados em árvores estratégicas, faziam um som suave e convidativo.
Pouco a pouco, os animais começaram a responder. O canto do Professor Sabichão voltou a ser majestoso. As vacas mugiam em um coro vibrante, e até Corajoso soltou um balido de satisfação. A fazenda estava novamente cheia da sua própria e única orquestra de sons.
Mariana percebeu que cada pequeno detalhe, cada som da natureza, era essencial para a harmonia do lugar. Ela aprendeu que a colaboração e a observação atenta podiam resolver qualquer desafio, e que a alegria de um lugar muitas vezes reside nos detalhes mais simples. E assim, o Sítio Alegre voltou a ser o lugar mais feliz do mundo, com sua melodia peculiar e cheia de vida.