Em uma casa colorida à beira de uma imensa floresta tropical, vivia Júlia, uma menina de cabelos cacheados e olhos brilhantes como jabuticabas. Seu melhor amigo era Damião, um mico-estrela ágil e risonho, que sempre a acompanhava em suas explorações diárias. Júlia adorava a natureza, cada folha, cada inseto, cada canto da floresta era um mistério a ser desvendado.
Certo dia, enquanto Júlia arrumava a velha caixa de pertences do seu avô, encontrou um pergaminho amarelado. Não era um mapa comum. Tinha desenhos de folhas, pegadas de animais e uma seta apontando para um ponto marcado com uma grande gota de água. No canto, rabiscado, lia-se: O coração da floresta, a canção da água.
Damião, com seus olhinhos curiosos, pegou o pergaminho e o virou de ponta-cabeça, depois do jeito certo. Cachoeira, ele sibilou, apontando para a gota. Júlia sentiu o coração acelerar. Poderia ser uma cachoeira escondida? Nunca ninguém havia falado de uma ali perto.
Com o pergaminho em mãos e a mochila nas costas, Júlia e Damião partiram. A floresta os abraçava com seus cheiros de terra molhada e flores selvagens. O sol filtrava-se entre as folhas, pintando o chão de verde e dourado. Seguiam as pistas do mapa, que os levava para caminhos menos conhecidos, por entre árvores com troncos gigantes e raízes que pareciam abraçar o chão.
De repente, ouviram um canto suave vindo de um galho alto. Era Dona Cotovia, uma ave de penas azuis e brancas, conhecida por sua sabedoria e por sempre estar observando tudo. Bom dia, pequeninos, aonde vão com tanta pressa? perguntou ela, com uma voz melodiosa.
Júlia mostrou o pergaminho. Estamos procurando a canção da água, Dona Cotovia. É uma cachoeira escondida, não é?
A cotovia piscou os olhos espertos. Ah, sim. A cachoeira secreta. Ela só se mostra para quem tem respeito no coração e olhos para ver a beleza em cada detalhe da natureza. Sigam o riacho que murmura e as pedras que brilham. Mas cuidado, o caminho pode ser escorregadio.
Agradecidos, Júlia e Damião seguiram o conselho da sábia ave. O riacho os guiou por um trecho cheio de pedras musgosas, onde Damião usou sua agilidade para pular de uma para outra, e Júlia segurou-se em cipós firmes. Depois, chegaram a um emaranhado de lianas e folhagens densas, parecendo uma parede verde.
Aqui deve ser, disse Júlia, puxando um cipó que parecia mais uma cortina. Para a surpresa deles, atrás da folhagem, o som da água era mais forte e vibrante.
Ao passarem pela cortina natural, um espetáculo se revelou. Uma cachoeira alta e majestosa descia por uma parede de rocha, formando um lago de águas tão claras que se podia ver o fundo. Borboletas de todas as cores dançavam no ar e pequenas flores roxas e amarelas salpicavam a margem. O sol criava um arco-íris sobre a névoa da água.
Júlia e Damião ficaram sem fala, maravilhados. A canção da água era um sussurro suave e poderoso ao mesmo tempo, um hino à natureza. Eles passaram horas ali, observando os peixes nadando, ouvindo o canto dos pássaros e sentindo a brisa fresca.
Naquele dia, Júlia e Damião aprenderam que a maior aventura não é encontrar algo escondido, mas sim valorizar e proteger os tesouros que a natureza nos oferece. Eles prometeram a si mesmos que aquele segredo seria guardado com carinho e que sempre cuidariam do lugar. E assim, com o coração cheio de gratidão e os olhos cheios de novas descobertas, voltaram para casa, sabendo que a floresta guardava muito mais do que se podia imaginar.



















