No coração do Vale Sonoro, um lugar onde as árvores pareciam partituras gigantes e o rio sussurrava canções, morava Olívia, uma coruja musicista com penas de tons aveludados e olhos que brilhavam como estrelas. Olívia tinha um talento extraordinário para tocar flauta. Suas melodias eram tão leves e cheias de alegria que todos os moradores da floresta paravam para ouvi-la, de esquilos saltitantes a peixes prateados. Cada nota que saía de sua flauta encantava os corações e fazia os ouvintes balançarem as folhas e caudas em ritmo.
Bento, um bicho-preguiça de pelos macios e um sorriso gentil, era um dos amigos mais antigos de Olívia. Ele adorava as músicas dela e sempre estava na primeira fila de suas apresentações. No entanto, com o passar do tempo, uma sensação estranha começou a crescer no peito de Bento. Ele via Olívia ser aplaudida, recebendo abraços e elogios, e sentia um nó na garganta. Era um sentimento de que ele não era tão importante, que seu valor se perdia diante de tanto brilho. Era o ciúme, que o deixava triste e pensativo.
Bento começou a se afastar. Em vez de assistir aos concertos de Olívia, ele se escondia atrás das árvores, observando de longe com o coração apertado. Olívia e os outros amigos notaram a mudança. Cecília, uma borboleta de asas iridescentes e um coração doce, foi a primeira a se aproximar de Bento.
– Olá, Bento! Por que você está tão quietinho ultimamente? perguntou Cecília, pousando delicadamente em uma de suas patas.
Bento suspirou, um som quase inaudível. – É que a Olívia é tão talentosa, Cecília. Todo mundo gosta tanto das músicas dela que eu sinto que não tenho nenhum brilho. Parece que ninguém mais se importa comigo.
Cecília ouviu com atenção, com seus grandes olhos azuis fixos no amigo. – Ah, Bento! A Olívia é realmente especial, mas isso não significa que você não seja! Cada um de nós tem algo único a oferecer. O talento da Olívia não tira o seu, apenas adiciona mais beleza ao nosso Vale Sonoro.
Naquele mesmo dia, Cecília conversou com Olívia. Juntas, elas tiveram uma ideia. No dia seguinte, Olívia procurou Bento. – Bento, meu amigo, por que você tem se afastado? Sinto falta do seu sorriso e da sua presença nos meus concertos.
Bento corou e, com a voz baixa, repetiu o que havia dito a Cecília. Olívia o abraçou carinhosamente. – Bento, você é meu amigo mais querido! Seu apoio sempre me deu força. E sabe de uma coisa? A gente pode tocar juntos! Eu tenho a melodia, mas talvez você tenha o ritmo, ou talvez você saiba contar histórias que a minha música pode ilustrar.
Bento pensou. Ele era bom em observar os detalhes da floresta e em criar pequenas batucadas com folhas secas e galhinhos. Ele nunca tinha pensado nisso como um talento. Olívia o incentivou a tentar.
Na próxima apresentação, Olívia tocou sua flauta, mas dessa vez, Bento sentou-se ao lado dela, batucando ritmos suaves com as folhas e contando, entre uma canção e outra, pequenas histórias divertidas sobre os acontecimentos da floresta. A borboleta Cecília, feliz, dançava no ar. A combinação da melodia de Olívia com o ritmo e as histórias de Bento foi um sucesso! Todos aplaudiram de pé. Bento sentiu uma alegria enorme, não por ser o centro das atenções, mas por compartilhar e contribuir com seus próprios talentos, ao lado de sua amiga.
Eles aprenderam que o ciúme pode surgir quando nos comparamos aos outros, mas que cada um tem um brilho especial. A verdadeira alegria está em celebrar os talentos de todos e em construir juntos, transformando qualquer desafio em uma linda canção de amizade e cooperação no Vale Sonoro.