No coração do Vale Sereno, onde uma cascata cintilava com todas as cores do arco-íris e as árvores sussurravam histórias antigas, vivia Dona Cotovia. Ela era uma cotovia idosa, com penas cinzentas e uma voz tão melodiosa que os rios pareciam cantar junto quando ela voava. Seu maior tesouro era o Jardim Encantado, especialmente uma flor peculiar, a Flor Cantante. Essa flor, única em todo o vale, desabrochava apenas na primavera e suas pétalas produziam melodias suaves que faziam todo o jardim vibrar em cores e alegria.
Era o início da primavera. As primeiras borboletas coloriam o céu e o cheiro doce das flores pairava no ar. Mas algo estava errado. A Flor Cantante, que deveria estar entoando sua canção matinal, permanecia em silêncio, suas pétalas fechadas. Dona Cotovia andava de um lado para o outro, seu coraçãozinho aflito.
Téo, um jovem macaco-prego com olhos curiosos e um jeito um tanto atrapalhado, e seu amigo Juca, um guaxinim esperto que adorava desvendar enigmas, notaram a tristeza da cotovia.
Téo perguntou com sua voz esganiçada: Dona Cotovia, por que a Flor Cantante está calada hoje?
Juca, sempre mais observador, acrescentou: Ela nunca ficou assim na primavera.
Dona Cotovia suspirou. Não sei, meus queridos. Tentei de tudo. Ela sempre canta quando o sol da manhã a toca.
Os dois amigos se entreolharam. Uma aventura para desvendar o mistério da Flor Cantante!
Téo, com sua energia habitual, pulou de galho em galho. Vamos investigar, Juca!
Juca assentiu, já examinando o chão em busca de pistas. Primeiro, vamos observar. O que mudou no jardim?
Eles caminharam juntos, com Dona Cotovia os seguindo de perto. Téo subia nas árvores, balançando-se e tentando ver o jardim de cima, enquanto Juca analisava as folhas, os insetos e a direção da luz do sol. Eles notaram que, nas últimas semanas, uma trepadeira vigorosa havia crescido bastante, suas folhas grandes e densas se espalhando por uma das árvores mais altas do jardim.
De repente, Juca parou. Olhe, Téo! A trepadeira! Ela está bem acima da Flor Cantante.
Téo saltou para o galho onde Juca apontava. Uau! É verdade! Ela cresceu muito e está fazendo uma sombra enorme bem onde o sol da manhã costumava bater.
Dona Cotovia bateu as asinhas, a esperança acendendo em seus olhos. Será que é isso? A Flor Cantante precisa do primeiro raio de sol para despertar sua canção.
Remover a trepadeira não seria fácil. Suas folhas eram muitas e seus galhos se entrelaçavam firmemente.
Téo disse: Eu sou bom em escalar! Posso tentar puxar os galhos menores.
Juca acrescentou: E eu posso usar minhas patinhas para soltar as raízes mais superficiais com cuidado. Dona Cotovia, você pode nos guiar de baixo para termos certeza de não machucar a flor.
Com um plano, os três amigos começaram a trabalhar. Téo, com sua agilidade, subia e descia, puxando os galhos mais finos. Juca, com sua precisão, desprendia as raízes mais fracas. Dona Cotovia, de seu posto no chão, dava instruções claras, garantindo que nenhum movimento brusco atingisse a delicada Flor Cantante.
Foi um trabalho árduo, mas eles não desistiram. A amizade e o desejo de ver a Flor Cantante cantar novamente os mantinham motivados. Finalmente, o último galho pesado foi movido, e um feixe de luz dourada do sol da manhã beijou as pétalas adormecidas da flor.
Lentamente, como um milagre da natureza, as pétalas da Flor Cantante começaram a se abrir. Um som suave, quase um sussurro, flutuou no ar, crescendo em uma melodia doce e envolvente. O Vale Sereno pareceu suspirar de alívio. As cores do jardim ficaram ainda mais vibrantes, os passarinhos começaram a gorjear mais alegremente, e até as borboletas dançaram no ar ao som da canção.
Dona Cotovia abraçou Téo e Juca com suas asinhas, lágrimas de alegria em seus olhos. Obrigada, meus queridos amigos! Vocês salvaram a primavera no Vale Sereno.
Téo e Juca sorriram, orgulhosos do trabalho em equipe. Eles aprenderam que, com observação, coragem e a ajuda dos amigos, até os maiores mistérios da natureza podem ser desvendados, e que a verdadeira beleza da primavera reside não só nas flores, mas também nos corações que se unem para fazê-la brilhar.



















